Por trás do viral da Anitta: intérprete de Libras defende a tradução da mensagem sem filtros 

Adriano Ruan, fala sobre sua trajetória e a repercussão do seu trabalho nas redes  

, em Uberlândia

Um intérprete de Libras roubou a cena dos artistas no Rock the Mountain (RTM), um festival de música que acontece em Itaipava, no Rio de Janeiro. No último final de semana, Adriano Ruan conseguiu chamar a atenção não só do público que assistia as apresentações de artistas como Anitta, Pabllo Vittar e Seo Jorge, mas também de uma multidão de pessoas que reagiram as gravações de sua interpretação nas redes sociais.  

Interpretação em Libras da música ‘São Paulo’, de Anitta e The Weeknd, feita por Adriano
Interpretação em Libras da música ‘São Paulo’, de Anitta e The Weeknd, feita por Adriano – Crédito: Redes sociais

De acordo com a organização do RTM, a proposta do festival é “promover uma experiência única com muito astral para um público especial”. Baseado nessa descrição, podemos dizer que eles extrapolaram o objetivo, apresentando um intérprete de Libras super alto astral e abrangendo o alcance de público para todo o Brasil, através dos vídeos que viralizaram.  

Quem é o interprete de Libras que viralizou? 

Adriano Ruan, de 31 anos, é natural de Itajuba em Minas Gerais, mas vive atualmente no Espírito Santo. Ele conheceu a Libras em 2012, quando foi jovem aprendiz e havia uma colega surda na sala de aula. Desde então Adriano não parou mais, até se encontrar profissionalmente como intérprete de Libras no setor artístico.  

Na última semana, o mineiro ganhou mais de 7 mil seguidores no Instagram, devido a repercussão da sua interpretação no festival. Perguntamos a ele como se sente ao ver seu trabalho sendo compartilhado nas redes, e ele respondeu dizendo que está amando o fato de que a Libras está sendo divulgada.  

Adriano Ruan se encontrou profissionalmente como intérprete de Libras no setor artístico
Adriano Ruan se encontrou profissionalmente como intérprete de Libras no setor artístico – Crédito: Arquivo pessoal

O intérprete defende que as pessoas surdas precisam receber a mensagem exata do que está sendo dito nas apresentações, sem filtros. “Isso aqui é muito pesado? Isso aqui é muito ousado? Isso aqui é muito exagerado? Então, eu vou entregar a mesma coisa, porque o surdo precisa saber o que está pegando aqui”, disse. 

Para Adriano, sua entrega está totalmente alinhada com as características do festival: ousado, exagerado, e com uma energia boa. Ele afirma que “muitas vezes, o surdo não tem acesso à cultura justamente porque a cultura não tem muitos profissionais que trabalham com isso”.  

Seu desejo é de que essa repercussão, possibilite a ampliação de trabalhos em eventos culturais para tradutores intérpretes de Libras com competência, para entregar aquilo que precisa ser entregue.   

“Do funk a qualquer outro tipo de contexto, precisa ser entregue como deve ser. A música está falando isso? O palestrante está falando isso? O contexto é esse? Entregue! O surdo também tem o direito de saber!” 

📲 Siga o canal de notícias do Paranaíba Mais no WhatsApp

Inclusão com responsabilidade 

Amanda Valentim, de 28 anos, também exerce a profissão de intérprete de Libras. De acordo com ela, não basta contratar um intérprete, abrir as portas do evento e permitir que o surdo entre. É preciso que o ambiente esteja adaptado, para que aconteça a real inclusão dessas pessoas.  

Amanda Valentim é intérprete de Libras na Prefeitura Municipal de Uberlândia
Amanda Valentim é intérprete de Libras na Prefeitura Municipal de Uberlândia – Crédito: Arquivo pessoal

A uberlandense comemora a visibilidade que a interpretação de Adriano trouxe à comunidade. “Sempre que o trabalho de um intérprete de Libras viraliza, joga um holofote em cima da categoria e dá mais espaço para que as pessoas lembrem que é importante incluir e é importante viabilizar essa inclusão”, disse.  

Quando perguntada sobre o jeito diferente que o colega interpretou a música ‘São Paulo’ de Anitta e The Weeknd, Amanda utiliza a didática para explicar que: 

“A expressão facial e corporal são equivalentes à entonação da voz e à cadência que a pessoa está falando. No caso da música, quando o intérprete dança, é para possibilitar ao surdo saber se a música se trata de uma música lenta, rápida, de um funk, samba, forró… Então, faz parte do trabalho do intérprete gerar no surdo um maior número de sensações possíveis, a partir do próprio corpo”, disse Amanda. 

Para Amanda, o trabalho do intérprete de Libras é gerar no surdo o maior número de sensações possíveis
Para Amanda, o trabalho do intérprete de Libras é gerar no surdo o maior número de sensações possíveis – Crédito: Arquivo pessoal

Segundo ela, geralmente quem contrata o intérprete é uma pessoa ouvinte, que não precisa de um intérprete. E às vezes essas pessoas nem se lembram de contratar um profissional para viabilizar a presença do surdo. Então, quando um vídeo como esse viraliza, é como se fosse um lembrete na cabeça do produtor.  

“Olha, não só os surdos vão ficar extremamente interessados em frequentar o seu ambiente, como isso vai gerar um buzz ali no seu evento. As pessoas vão se lembrar que no seu evento tinha um intérprete super legal e que vocês se preocuparam com a acessibilidade. Assim aumenta a procura dos produtores pelo profissional intérprete. E pra gente isso é maravilhoso”, finalizou a intérprete de Libras. 

 

Veja mais: