Máfia chinesa: investigação revela conexões entre golpe do PIX e arsenal de armas em SP
Investigação revela como recursos de golpes do PIX financiavam a compra ilegal de armamentos e alimentavam atividades criminosas no Brasil
A Polícia Federal (PF) e o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo (MPSP) investigam um esquema criminoso atribuído a um braço da máfia chinesa no Brasil.
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A organização estaria envolvida em uma série de crimes, incluindo estelionato, lavagem de dinheiro e comércio ilegal de armas.
Ligação entre golpe do PIX e arsenal
De acordo com informações do Metrópoles, a investigação começou a partir da análise de movimentações financeiras suspeitas associadas a um esquema de estelionato conhecido como “golpe do PIX”. O crime consistia em atrair vítimas por meio de mensagens prometendo empregos fáceis e rendimentos rápidos.
Após pequenos pagamentos iniciais, os golpistas induziam as vítimas a fazer depósitos maiores, com a falsa promessa de retornos financeiros elevados. Quando as pessoas percebiam a fraude, já era tarde: o dinheiro havia sido desviado para contas de laranjas.
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As apurações levaram os investigadores a um clube de tiro na zona leste de São Paulo, frequentado majoritariamente por cidadãos chineses. Documentos encontrados no local listavam nomes, CPFs e modelos de armas de integrantes do clube, evidenciando a presença de estrangeiros em posse de armamento. A PF constatou que os recursos desviados no esquema de estelionato estavam sendo utilizados para a aquisição de armas e munições.
Clube de tiro e ligação com a máfia chinesa
O clube de tiro em questão operava no mesmo espaço que a empresa Uzi Comércio de Armas e Munições, atualmente suspensa judicialmente. O local, que se apresenta como a maior escola de tiro indoor de São Paulo, oferecia treinamentos para policiais militares e civis. No entanto, as autoridades apontam que a estrutura do estabelecimento teria sido financiada com dinheiro proveniente de atividades ilícitas.
Um dos principais investigados é o empresário chinês Zou Chenglong, que, segundo depoimentos, manifestou a intenção de “armar cidadãos chineses”. Ele é casado com a filha de Huang He, mafioso extraditado para a China, e teria adquirido R$ 1 milhão em armas e munições para o clube. Registros bancários e mensagens obtidas pela PF indicam que outras figuras ligadas à máfia chinesa também investiram recursos no empreendimento.
Lavagem de dinheiro no Brás
Além do comércio ilegal de armas, a investigação revelou que diversas lojas no Brás, tradicional centro de compras de São Paulo, foram utilizadas para lavar dinheiro dos golpes. A Ouro Preto Roupas e Acessórios e a JKL Comércio de Roupas, pertencentes a empresários chineses, receberam repasses suspeitos de empresas de fachada. Uma única loja chegou a movimentar R$ 144 milhões em dois anos.

As conexões entre os envolvidos foram reforçadas por evidências financeiras e registros fotográficos. Durante a abertura de contas bancárias utilizadas no esquema, imagens mostravam pessoas de origem asiática ao fundo, indicando a presença de intermediários no recrutamento de laranjas.
Segundo noticiado pelo Metrópoles, entre os suspeitos está Lingbin Xia, comerciante chinês incluído na lista de procurados da Interpol, e Zhifeng Jin, empresário do setor têxtil com ligações diretas com Chenglong.
Envolvimento de empresários e suspeita de execuções
As investigações apontam que o clube de tiro também servia para lavagem de dinheiro. Transações financeiras indicam que depósitos volumosos foram feitos por indivíduos sem ligação aparente com a prática de tiro esportivo. Entre os valores identificados, um dos repasses chegou a R$ 779 mil.
A disputa pelo controle do clube gerou tensões entre os sócios. Em mensagens interceptadas, Zou Chenglong teria manifestado a intenção de gastar até R$ 9 milhões para eliminar concorrentes dentro do negócio. Conversas obtidas pela PF revelam que as discussões giravam em torno da administração do empreendimento e da divisão dos lucros, levantando suspeitas de planejamento de execuções.
O que dizem os envolvidos
A defesa dos investigados nega irregularidades e afirma que as acusações são baseadas em especulações e preconceitos contra a comunidade chinesa. O advogado de Ivan Batista de Souza Junior, um dos apontados no esquema, alega que não há provas concretas ligando seu cliente à organização criminosa. A defesa de Zhifeng Jin e Weiwei Du optou por não se manifestar, segundo o Metrópoles.