Lixo espacial: especialista esclarece fenômeno luminoso visto no céu de Minas

Diante da repercussão, muitas pessoas chegaram a supor que se tratava de um meteoro ou até mesmo de um cometa, hipótese descartada pelo astrônomo Gilberto Dumont

, em Uberlândia

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Moradores de diversas cidades de Minas Gerais incluindo o Triângulo Mineiro foram surpreendidos, no início da noite desta quarta-feira (14), por um clarão atravessando o céu por volta das 18h30. O fenômeno chamou a atenção principalmente na Região Norte do estado, com registros em municípios como João Pinheiro, Patos de Minas e Brasilândia de Minas. Segundo o astrônomo Gilberto Dumont, diretor do Observatório de Astronomia de Patos de Minas, o fenômeno se tratava da reentrada de lixo espacial.

Fenômeno luminoso no céu mineiro era lixo espacial, apontam especialistas.
Fenômeno luminoso no céu mineiro era lixo espacial, apontam especialistas. Crédito: Reprodução/ Redes Sociais

A luz intensa também foi avistada em partes da Bahia, do Distrito Federal e de Goiás. Logo após a aparição, surgiram especulações sobre o que poderia ter causado o fenômeno, alguns apontaram para um cometa, outros para um meteoro.

No entanto, a explicação veio com base em análises feitas pela Rede Brasileira de Monitoramento de Meteoros (Bramon), que avaliou imagens do céu e confirmou a verdadeira origem do objeto.

Segundo a Bramon, tratava-se da reentrada do segundo estágio do foguete Falcon 9, da empresa norte-americana SpaceX, lançado originalmente em 2014. Esse componente havia permanecido em órbita por quase 11 anos antes de retornar à atmosfera terrestre. Durante a queda, percorreu cerca de 1.500 km em apenas quatro minutos, atingindo uma velocidade estimada entre 6 e 7 km por segundo.

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Especialista explica fenômeno luminoso

De acordo com Gilberto Dumont, especialista em Ensino de Astronomia e diretor do Observatório de Patos de Minas, o comportamento do objeto no céu indicava que se tratava de lixo espacial. Diante da repercussão, muitas pessoas chegaram a supor que se tratava de um meteoro ou até mesmo de um cometa, hipótese descartada por Dumont.

“Muitas pessoas começaram a comentar de que se tratava de Cometa, meteoro, mas as características observacionais destes corpos são completamente diferentes. Um cometa fica visível no céu por vários dias e às vezes até por meses. Um cometa não cruza o céu com esta velocidade, e está fora da nossa atmosfera, a distâncias muito maiores. Um meteoro pode muita das vezes pode ser confundido, pois ele passa rapidamente por nossa atmosfera, mas, geralmente é um único bólido somente, acompanhado de um estrondo, e a velocidade costuma ser mais rápida”, explica o especialista sobre as diferenças dos corpos celestes.

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A aparência fragmentada do objeto foi outro indicativo de que se tratava de lixo espacial, reforça o astrônomo, “Geralmente, em quase todos avistamentos que acompanhamos e estudamos, a múltipla fragmentação, com velocidade aparente menor, e com fragmentos incandescentes, está relacionada com lixo espacial, ou seja: fragmentos de satélites ou foguetes que ao entrarem na atmosfera são aquecidos pelo atrito com o ar e partículas da atmosfera e acabam por se incandescerem.”

Dumont ainda reforça que a maior parte do lixo espacial tende a se desintegrar ao reentrar na atmosfera, reduzindo os riscos para a população. “As áreas habitadas cobrem uma pequena área em relação às áreas de mares e terras desabitadas, isso leva o risco para margens muito pequenas, caindo na grande maioria das vezes no oceano.”

O Falcon 9 e sua trajetória

O Falcon 9 é um foguete desenvolvido pela SpaceX, reconhecido por sua tecnologia reutilizável e pela eficiência no transporte de cargas e satélites.

Projetado para atingir diferentes órbitas — da baixa (LEO) à geoestacionária (GTO) —, o veículo espacial representa um marco na indústria por permitir a recuperação e reutilização de seus primeiros estágios.

No lançamento realizado em 2014, um dos estágios do Falcon 9 foi descartado após cumprir sua função e permaneceu orbitando a Terra por quase 11 anos.

Com o tempo, esse fragmento perdeu altitude e, puxado pela gravidade, acabou reentrando na atmosfera terrestre, gerando o fenômeno luminoso observado recentemente em diversas regiões do Brasil.