A ilha proibida: conheça o lugar mais isolado do planeta
Localizada no Oceano Índico, a Ilha Sentinela do Norte abriga um povo que rejeita contato externo e vive de isolado há milênios; expedições recentes levaram um homem à morte
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Entre as florestas densas e os recifes de corais da Baía de Bengala, existe uma pequena ilha com pouco mais de 70 km² que permanece envolta em mistério: a Ilha Sentinela do Norte. Parte do arquipélago de Andamão e Nicobar, na Índia, ela é considerada o local mais isolado do planeta — não apenas por sua geografia remota, mas, principalmente, pelos seus habitantes.
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Os sentineleses, como são conhecidos os nativos, formam uma das últimas tribos humanas que vivem completamente afastadas da civilização. Estima-se que entre 50 e 200 pessoas habitem o território, mas o número exato é impossível de confirmar. Eles rejeitam qualquer tipo de contato e são conhecidos por reagir com hostilidade a qualquer aproximação.
A política oficial do governo indiano é clara: ninguém pode se aproximar a menos de cinco quilômetros da ilha. A medida visa proteger tanto os visitantes quanto a própria tribo, que não possui imunidade a doenças modernas, como gripe ou sarampo. Ainda assim, histórias de tentativas ilegais de contato com os sentineleses continuam surgindo — e, frequentemente, terminam em tragédia ou controvérsia.
Um povo intocado
A Ilha Sentinela do Norte tem vegetação densa e é cercada por recifes de coral, sem portos naturais, o que já dificulta naturalmente qualquer aproximação.
Mesmo com a proximidade geográfica de outras ilhas habitadas das Andamão, o isolamento cultural e linguístico dos sentineleses é absoluto. O povo Onge, também indígena da região, já foi levado à ilha em tentativas britânicas de aproximação no século XIX, mas sequer conseguiu compreender o idioma local.
Os poucos relatos sobre os sentineleses vêm de observações distantes ou de encontros que terminaram em violência. O primeiro registro da ilha data de 1771, quando um agrimensor britânico observou “uma infinidade de luzes” no local.
Tentativa de contato que levou um homem à morte
Em novembro de 2018, o caso do missionário americano John Allen Chau ganhou repercussão internacional. Com o objetivo de evangelizar a tribo, ele teria subornado pescadores locais e chegou à ilha de caiaque, carregando uma bola de futebol, linha de pesca e uma tesoura como presentes. Chau foi morto a flechadas assim que desembarcou, e seu corpo jamais foi recuperado.

Agora, em 2025, o nome do youtuber ucraniano Mykhailo Viktorovych Polyakov, de 24 anos, voltou a chamar atenção para a ilha. Conhecido por explorar territórios de risco — como sua recente estadia no Afeganistão sob o regime do Talibã —, ele foi preso após tentar entrar ilegalmente em Sentinela do Norte no final de março.
Segundo a polícia indiana, Polyakov partiu de uma praia a 40 km de distância em um barco inflável com GPS. Na ilha, ele teria deixado uma lata de Coca-Cola Diet e um coco como “presentes” para os nativos, além de coletar areia e gravar vídeos com uma câmera GoPro. A abordagem, embora aparentemente pacífica, foi considerada uma grave violação das leis de proteção aos povos indígenas.
As autoridades já haviam registrado outras tentativas de Polyakov de se aproximar de comunidades isoladas na região. Em uma delas, ele filmou ilegalmente membros da tribo Jarawa. Agora, ele pode responder por múltiplas infrações.
A diretora da organização Survival International, Caroline Pearce, classificou o ato como “profundamente irresponsável”: “Ele não apenas colocou sua vida em risco, mas também a sobrevivência de toda a tribo Sentinelese”, declarou.
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Terra de ninguém?
Apesar de estar sob jurisdição do governo indiano desde 1947, a Ilha Sentinela do Norte funciona, na prática, como uma entidade soberana. As autoridades locais afirmam que não pretendem interferir no modo de vida dos sentineleses e mantêm patrulhas marítimas para impedir a entrada de curiosos ou caçadores ilegais.
Especialistas reconhecem que qualquer contato forçado pode ter consequências catastróficas. Além do risco biológico, existe uma questão ética: os sentineleses nunca pediram contato, tampouco demonstraram interesse em abandonar seu modo de vida tradicional.

Hoje, eles representam uma das últimas conexões vivas com a forma mais ancestral de existência humana. Para muitos estudiosos, conhecê-los de longe — respeitando sua vontade e sua proteção — é a única forma responsável de preservar essa cultura única e milenar.
Ilha Sentinela do Norte em números:
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Localização: Baía de Bengala, Oceano Índico
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Área: Aproximadamente 72 km²
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População estimada: 50 a 200 pessoas
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Contato com o mundo exterior: proibido por lei
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Idioma: desconhecido e não compreendido nem por outros povos indígenas da região
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Hostilidade: ataques relatados em praticamente todas as tentativas de aproximação