Além dos gramados: a saúde mental de atletas sob pressão

A pressão por resultados e os desafios da vida pessoal levam cada vez mais atletas a buscarem ajuda psicológica preocupados com a saúde mental

, em Uberlândia

A psicologia anda lado a lado com o esporte. Ser atleta, seja de nível amador ou profissional, não é uma tarefa fácil. Conciliar a rotina de treinos com a vida pessoal pode ser um grande desafio. Dedicar horas a treinos e ainda organizar tempo para atividades pessoais pode levar ao desgaste mental e físico.

No futebol, por exemplo, o ambiente em que o atleta vive e a pressão por resultados se tornam temas diários dentro dos gramados.

A mídia desempenha um papel significativo ao criar uma pressão intensa sobre os atletas, com notícias e manchetes que cobram desempenho. Essas ações impactam fortemente os torcedores, que frequentemente adotam uma postura midiática, levando a intensas cobranças.

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Protestos nas arquibancas são diferentes dos protestos nos CTs.
Protestos nas arquibancas são diferentes dos protestos nos CTs – Crédito: Tomzé Fonseca

Saúde mental

É comum episódios de torcedores que invadem centros de treinamento, agridem atletas e ameaçam seus familiares, entre outros incidentes.

Diante disso, cabe ao atleta buscar a melhor solução para “blindar” seu lado mental e não deixar que atitudes como essas atrapalhem seu desempenho no dia a dia. Surge, assim, a importância da psicologia no esporte, uma abordagem necessária não apenas para os atletas, mas para qualquer pessoa que busca ajuda.

Recentemente, o ex-camisa 9 da seleção brasileira, Richarlison, atacante do Tottenham, agradeceu aos serviços da psicóloga que o acompanhou, afirmando que ela salvou sua vida, pois chegou a procurar conteúdos obscuros relacionados à morte na internet.

No cenário esportivo e midiático, os comentários positivos e negativos podem oscilar rapidamente. Em um jogo, um atleta pode ser o herói; no outro, pode se tornar o vilão e ser hostilizado.

Em outros casos, perseguições de grupos também podem levar o atleta a procurar por ajuda. Recentemente, Vinicius Junior, atacante do Real Madrid, tem sido alvo de racismo e diversas ofensas na Espanha. Situação essa que o brasileiro chegou a chorar em campo.

Outras situações que podem levar um atleta a considerar um acompanhamento terapêutico incluem lesões, que podem afastá-lo do esporte por longos períodos devido à fisiologia do corpo ou a infelicidades.

O papel da psicologia na formação de um atleta

Ricardo Arguejos, ex-jogador de clubes como Cruzeiro, Atlético-MG e Uberlândia, atualmente estudante de psicologia, relatou como era o suporte psicológico em seu ambiente dentro dos clubes.

“Quando eu era atleta, tinha um acompanhamento psicológico lá, uma psicóloga para cada categoria, ou seja, sub-14, 15, 17 e 20. Ela focava mais em atividades dinâmicas, poucas palestras. O foco era me deixar mais interativo para trabalhar algumas coisas, como união, foco e tomadas de decisões”, explicou Ricardo.

No entanto, ele destacou negativamente a forma como o lado da saúde mental do atleta era pouco explorado: “A saúde mental do atleta é pouco explorada. O psicólogo do esporte foca mais em resultados, isso eu tenho até como crítica enquanto estudo. Um atleta com a saúde mental em dia terá um desempenho melhor.”

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Ricardo Arguejos, estudante de psicologia e ex-jogador de futebol criticou a abordagem dos clubes – Créditos: Arquivo Pessoal

Arguejos compartilhou sobre um determinado período em que passou por dificuldades. “Eu tive duas lesões muito sérias de ligamento cruzado e, depois, houve um acolhimento, mas antes, em um caso específico, eu tinha sido expulso em um jogo e estava treinando completamente estressado e transtornado. Em um lance de treino, rompi o ligamento pela segunda vez. Talvez, se tivesse tido um acompanhamento focado em saúde mental antes da lesão, poderia ter sido diferente”, comentou o estudante.

O ex-atleta destacou a necessidade de um acompanhamento psicológico mais presente, sobretudo nas categorias de base. “É fundamental que os jovens atletas tenham acesso a um psicólogo. Afinal, eles estão em uma fase de grandes mudanças e precisam de apoio para lidar com a pressão, a adaptação a um novo ambiente e a busca por seus objetivos”.

Questionado sobre a psicologia ser um tabu dentro do esporte, onde a pressão por resultados é imensa, Arquejos ressaltou como figuras de referência alimentam a visão de que essa necessidade não existe:  “Acredito que existe muito tabu no futebol, principalmente porque grandes nomes do futebol brasileiro trazem esse tema. Neymar já disse que não vê necessidade de psicólogo no futebol. Isso é muito complexo, mas não se limita apenas ao futebol”.

No contexto geral, a psicologia ainda enfrenta preconceito, talvez por ser uma ciência nova.” “É uma construção importante. Trabalhar com jovens em formação é necessário e deveria ser melhor tratado, principalmente nas categorias de base”, concluiu.

É importante destacar que a psicologia não se limita apenas ao esporte, mas pode ser uma aliada em diversos ambientes da vida.  Se você sentir a necessidade de apoio, procure um profissional qualificado.