Fernanda Torres em Ainda Estou Aqui é o pilar de filme histórico em diversos sentidos

Ainda Estou Aqui é uma produção que busca reavivar memórias e Fernanda Torres se transformou em história ela mesma ao vencer o Globo de Ouro

, em Uberlândia

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Mais do que a emoção que Ainda Estou Aqui traz em si, a proposta de foco da narrativa deixa as coisas ainda mais interessantes. Hoje, cinco décadas depois, já se sabe o que aconteceu com o deputado e engenheiro Rubens Paiva, mas o longa de Walter Salles, roteirizado por Murilo Hauser e Heitor Lorega, vira seu olhar para a falta que um personagem faz. E é aí que Fernanda Torres tem espaço para brilhar.

Depois de estabelecer a família Paiva, sua dinâmica e seu espaço, Rubens, vivido por Selton Mello, é sequestrado e some. Você não o vê mais, a família não sabe dele. Enquanto Eunice abraça um protagonismo que não queria.

Fernanda Torres em Ainda Estou Aqui
Fernanda venceu o prêmio pelo qual sua mãe chegou a ser indicada – Crédito: Divulgação/Sony Pictures

Baseados no livro de Marcelo Rubens Paiva, os roteiristas, então, passeiam por caminhos escurecidos, assim como a casa tem as cortinas fechadas após a invasão de agentes da ditadura. Não há notícias de Rubens, a morte do homem nunca é verdadeiramente mostrada e os filhos são informados com o mínimo possível de horrores pelos quais a família passa.

Tudo no filme é dolorido a partir de certa altura e temos um filme sensível, em que uma casa vazia diz muito sobre a história que está sendo contada.

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É difícil conter as lágrimas com Torres em cena demonstrando força tirada sabe-se lá de qual fonte. O trabalho é introspectivo, mas é impossível não ver o mar agitado no peito da personagem.

Quando a casa é invadida e o marido é sequestrado, Eunice não consegue esconder o temor sob a fachada de educação para recepcionar os algozes de sua família. Da mesma forma que ela tenta proteger os filhos e isso lhe custa não poder gritar de dor. Fernanda parece preocupada e até aérea, com sua atenção dividida entre o que pode fazer para entender o que se passou com Rubens e a forma como vai lidar com as perguntas dos filhos.

A beleza de Fernanda Torres dedicar sua vitória de Melhor Atriz em um Filme de Drama no Globo de Ouro fecha um ciclo aberto pela própria mãe em 1999, com Central do Brasil, também indicada, mas não vencedora do mesmo prêmio.

Um ciclo que inclui Fernanda Montenegro em cena no final de Ainda Estou Aqui, numa parceria altamente emocionante.

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O problema de saúde que acomete a personagem fica entre o trágico e o poético depois de acompanharmos uma luta por memória, que em tela é representada por filmagens em super 8 e muitas, muitas fotos.

Dentro de uma produção que busca reavivar memórias, Fernanda Torres se transformou em história ela mesma ao vencer o Globo de Ouro.

Ainda Estou Aqui não para de se desdobrar. Parte de uma história familiar, reacende a discussão sobre lembranças de um período tão sombrio quanto o da Ditadura Militar no Brasil e agora é capítulo importante da história do Cinema brasileiro.