Enem 2025 inaugura era dos textos mais longos e questões encadeadas
Novo modelo testlets, usado pela primeira vez nas provas de linguagens e humanas, promete avaliar habilidades mais profundas e pode se expandir para outras áreas
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O Enem 2025 marcou uma virada no formato da prova ao adotar pela primeira vez o modelo testlets, um sistema que agrupa várias questões a partir de um mesmo texto-base. O método, revelado pelo ministro da Educação, Camilo Santana, após o primeiro dia de aplicação, busca ampliar a análise crítica e o raciocínio lógico dos participantes, reduzir a repetição de trechos e aproximar o exame de avaliações internacionais. A mudança, por ora, foi implementada apenas nas áreas de linguagens e ciências humanas, mas o Inep já admite expandir o formato para outras disciplinas.

Uso inédito no Enem e possibilidade de ampliação
O anúncio foi feito após as provas do último domingo (9), na sede do Inep, em Brasília. Segundo o instituto, o novo modelo foi aplicado nas 90 questões de linguagens e ciências humanas. Já sobre o segundo dia do exame, que ocorre no próximo domingo (16) e reúne matemática e ciências da natureza, o órgão afirma que não antecipa detalhes por motivos de segurança.
Ainda assim, a diretora de Avaliação da Educação Básica do Inep, Hilda Linhares, confirmou que a intenção é ampliar gradualmente o uso do testlets. A proposta, segundo ela, é transformar o modelo em uma prática comum nas próximas edições.
Como funciona o testlets
Diferentemente da estrutura tradicional do Enem, em que cada pergunta é acompanhada de seu próprio texto, o formato testlets reúne um bloco de questões que compartilham o mesmo material de leitura.
Isso não significa, porém, que a resposta de uma pergunta dependa da outra. O candidato continua resolvendo cada item de forma independente. O que muda é a profundidade da leitura: textos mais extensos e completos possibilitam abordar contextos complexos, ampliar o nível de interpretação e permitir avaliações cognitivas mais sofisticadas.
Segundo o Inep, a mudança traz benefícios como:
- Redução do tamanho total da prova,
- Uso mais eficiente do tempo de leitura,
- Aproximação dos textos da versão integral,
- Possibilidade de explorar temas complexos,
- Avaliação de tarefas mentais mais elaboradas.
Especialistas avaliam o impacto do novo modelo
Para Camila Karino, diretora de Avaliações da Arco e porta-voz do SAS Educação, o uso do testlets surpreendeu, já que o Enem historicamente seguia um padrão consolidado. Apesar da mudança significativa, ela avalia o novo modelo como um avanço, principalmente pela possibilidade de trabalhar habilidades de leitura mais profundas.
Segundo Karino, quando cada questão tinha seu próprio enunciado, era necessário optar por textos curtos, o que limitava a complexidade das abordagens. Agora, com trechos mais densos, a prova pode se aproximar do nível de avaliações internacionais, como o Pisa. Ela não vê desvantagens evidentes e acredita que a mudança não deve alterar o tempo total de realização do exame, embora torne a leitura mais desafiadora.
A especialista lembra ainda que esse formato já aparece em vestibulares como UERJ, Unesp, UFRGS, Uece, Fuvest e PAS/UnB, mas sem explorar totalmente o potencial do método. Para ela, o movimento do Inep indica uma tendência para os próximos anos.
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Testlets x TRI: o que muda
Karino reforça que o modelo adotado na construção da prova não altera o cálculo das notas. A Teoria de Resposta ao Item (TRI), usada há vários anos, permanece como base para estimar a proficiência dos participantes, considerando coerência das respostas e grau de dificuldade das questões. Ou seja, o testlets muda a estrutura da prova, não o sistema de pontuação.
Segundo dia de provas neste fim de semana
No domingo (16), mais de 1,8 mil municípios receberão os participantes para o segundo dia do Enem. O exame continua sendo a principal porta de entrada para universidades públicas, programas federais como Sisu, Prouni e Fies, além de possibilitar ingresso em instituições estrangeiras, como universidades portuguesas. As notas também servem para autoavaliação dos treineiros e para certificação do ensino médio.