Inadimplência em Uberlândia cresce e atinge 45% da população
Crescimento de 2,31% em um ano reflete desafios econômicos e impactos emocionais, segundo especialistas
Laura Lany , em Uberlândia
A inadimplência em Uberlândia cresceu e alcançou 324.918 pessoas em outubro de 2024, representando 45,56% da população total da cidade, segundo o levantamento do Serasa. Comparado ao mesmo período do ano passado, o aumento foi de 2,31%, com 7.327 novos registros.

Segundo o economista Filipe Prado, o crescimento da inadimplência está diretamente ligado a fatores econômicos como o desemprego e a instabilidade de renda.
“O endividamento, muitas vezes, reflete a dificuldade de famílias de baixa renda, com ganhos entre R$ 3 mil e R$ 4 mil, em lidar com despesas recorrentes em momentos de crise econômica ou sazonalidades no mercado de trabalho,” explicou.
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Dinâmica econômica em Uberlândia
Uberlândia, com sua economia atrelada ao agronegócio e ao setor de serviços, é referência regional e atrai trabalhadores de cidades vizinhas. Contudo, o mercado local é sensível a sazonalidades, como observa Prado:
“Em períodos como o final do ano, a contratação temporária aumenta, mas a renda sazonal muitas vezes não é suficiente para manter os compromissos financeiros no longo prazo, o que alimenta o ciclo de inadimplência.”
Prado também destacou o papel do crédito facilitado nesse cenário. A proliferação de fintechs e cartões de crédito impulsiona o consumo, mas também agravado o endividamento.
“O acesso rápido e fácil ao crédito pode levar à inadimplência, principalmente em uma economia onde a renda não é estável.”
Inadimplência em Uberlândia e o perfil do endividado
Em Minas Gerais, o perfil dos inadimplentes é equilibrado entre os gêneros 51,2% homens e 48,8% mulheres, com maior concentração entre pessoas de 41 a 60 anos (34,9%) e de 26 a 40 anos (32,9%).

Em Uberlândia, o padrão segue semelhante, de acordo com o economista, demonstrando que a questão atinge diversos grupos etários e sociais.
Impactos emocionais e sociais
Em entrevista ao Paranaíba Mais, Juliana de Oliveira, psicóloga financeira, explica como questões emocionais, como ansiedade, depressão e estresse, podem desencadear comportamentos prejudiciais ao controle financeiro.

Segundo Juliana, esses transtornos emocionais afetam diretamente a percepção e a capacidade de tomar decisões racionais sobre as finanças, levando muitas pessoas a buscar alívio imediato através do consumo excessivo, como uma forma de tentar controlar as emoções.
Esse ciclo vicioso pode resultar em inadimplência, afetando ainda mais a saúde mental, criando um loop de estresse e agravando quadros como ansiedade e depressão.
Ansiedade pode afetar as compras e gerar desconforto
Ela explica que, em situações de ansiedade, por exemplo, a pessoa pode ter a sensação de estar no controle, mas suas decisões financeiras se tornam impulsivas e desproporcionais à sua realidade, já que buscam aliviar o desconforto emocional por meio de compras.
Além disso, Juliana destaca que problemas financeiros não estão restritos a pessoas de baixa renda; mesmo indivíduos com altos salários podem se endividar se tiverem uma relação emocional complicada com o dinheiro.
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A psicóloga afirma que como cada pessoa lida com o dinheiro está profundamente ligada às crenças familiares, histórias financeiras e emoções que carregam desde a infância, e que entender essas raízes é fundamental para mudar comportamentos financeiros descontrolados.
Para ajudar a romper esse ciclo, ela sugere o autoconhecimento emocional, o acompanhamento psicológico, e práticas como a psicoterapia financeira, que analisa a história financeira da família e oferece ferramentas para lidar com as emoções relacionadas ao dinheiro de maneira saudável.
Renegociação e educação financeira como solução
Para romper esse ciclo, especialistas sugerem iniciativas de renegociação de dívidas e programas de educação financeira.
Feirões promovidos por empresas como o Serasa têm ajudado consumidores a renegociar débitos com descontos médios de 80%, permitindo a recuperação de crédito e, consequentemente, a retomada do consumo.
Além disso, Prado enfatiza a importância de políticas públicas que combinem renegociação com estabilidade no emprego.
Já Oliveira reforça a necessidade de autoconhecimento financeiro. “Reconhecer como emoções e crenças familiares impactam nossas decisões é fundamental para evitar o endividamento.”
Procon de Uberlândia oferece opções para negociação de dívidas
O Procon de Uberlândia oferece suporte diário para auxiliar consumidores endividados na renegociação de dívidas.
O atendimento pode ser realizado presencialmente ou por meio do aplicativo Fale Procon.
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Antes de recorrer ao órgão, é recomendado que o consumidor tente negociar diretamente com o credor, buscando o Procon apenas em caso de impasse.
Além do atendimento contínuo, está prevista a realização de um mutirão específico para renegociações de dívidas em março de 2025, com o objetivo de ampliar as oportunidades de regularização financeira para a população.