Energia solar avança em Minas, mas infraestrutura ainda ameaça ritmo da transição

A força do setor no estado também se reflete em cidades-polo como Uberlândia, contudo, o cenário não é apenas de avanço, problemas regulatórios e técnicos têm desafiado empresas e consumidores

, em Uberlândia

Minas Gerais reafirma sua liderança no setor de energia solar com a inauguração do Parque Solar de Arinos nesta quarta-feira (4), um dos maiores empreendimentos de energia renovável do Brasil, e ao mesmo tempo expõe os obstáculos na infraestrutura elétrica que ainda travam o avanço do setor. A força do setor no estado também se reflete em cidades-polo como Uberlândia, com um cenário não apenas de avanço, mas ainda composto por problemas regulatórios e técnicos têm desafiado empresas e consumidores.

Minas Gerais amplia protagonismo na energia solar com megaprojeto em Arinos e pressões por avanços na distribuição elétrica
Minas Gerais amplia protagonismo na energia solar com megaprojeto em Arinos e pressões por avanços na distribuição elétrica – Crédito: Gerdau/ Divulgação

Localizado no município de Arinos, no Norte mineiro, o parque ocupa uma área de 822 hectares e abriga mais de 720 mil painéis solares. Com capacidade instalada de 432 megawatts-pico (MWp), a usina tem potência suficiente para abastecer até 70 mil residências ou uma cidade de 350 mil habitantes.

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O investimento total no projeto foi de R$ 1,5 bilhão, dos quais R$ 690 milhões foram financiados pelo Banco do Nordeste, em parceria com o Governo Federal.

Durante a cerimônia de inauguração, o presidente da República em exercício e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, ressaltou o papel estratégico do Brasil na matriz energética global.

“O Brasil já é o grande celeiro do mundo. Grande produtor de proteína animal e vegetal. Temos um parque industrial vigoroso, com uma das matrizes energéticas mais limpas. Estamos entre os seis maiores produtores mundiais de energia solar e eólica. E precisamos descarbonizar: este parque vai deixar de emitir 22 mil toneladas de CO₂ por ano. Isso é contribuir com o planeta”, afirmou Alckmin.

Crescimento e barreiras

Minas Gerais lidera o ranking nacional de geração de energia solar, com cerca de 934 usinas em operação. O estado concentra o maior potencial instalado do país e deve receber R$ 17,6 bilhões em investimentos até 2028, com expectativa de geração de 160 mil empregos diretos e indiretos, segundo o Ministério de Minas e Energia (MME).

A força do setor no estado também se reflete em cidades-polo como Uberlândia, no Triângulo Mineiro, onde a geração distribuída tem impulsionado negócios e consumo de energia solar residencial. Contudo, o cenário não é apenas de avanço. Problemas regulatórios e técnicos têm desafiado empresas e consumidores.

“Aqui em Uberlândia temos acompanhado esse crescimento de perto. Tenho feito muitas ligações de geração distribuída. O sol já gera e distribui, e isso já impacta positivamente. Mas estamos vivendo um momento de estagnação. Muitas empresas fecharam este ano por causa das restrições da Cemig, que não tem permitido injetar energia na rede”, afirma Gustavo Castro Vasconcelos, sócio diretor da Ribeiro Barroso construções elétricas Ltda.

Segundo Barroso, o setor enfrenta entraves com a capacidade das redes locais. “As ruas não foram preparadas para tanta geração distribuída. É urgente que Aneel e o Ministério de Minas e Energia ampliem os investimentos em estrutura. Sem isso, o sistema corre risco de colapso.”

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Barroso destaca uma iniciativa na menor cidade do País, Serra da Saudade em Minas Gerais, onde a Cemig instalou placas solares com baterias.

“À noite, a bateria abastece a cidade. Esse tipo de solução precisa se espalhar pelo Brasil, principalmente onde a rede de distribuição ainda não chega com eficiência”, cita Barroso.

A questão do armazenamento de energia é, aliás, uma das principais dificuldades técnicos do setor, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA).

Hoje, o país ainda carece de investimentos robustos em subestações e linhas de transmissão que permitam o uso pleno da energia gerada durante o dia. Além disso, tecnologias como armazenamento térmico e utilização de gás natural associado à captura de gases de efeito estufa são apontadas como caminhos complementares para estabilizar o fornecimento.

Perfil do consumo e impacto no mercado

Dados do setor mostram que o consumo de energia solar no Brasil é liderado pelo setor residencial (49,57%), seguido pelos setores comercial e de serviços (28,43%), rural (13,50%), industrial (7,23%) e, por último, o setor público (1,27%). O crescimento acelerado nos últimos anos provocou um inchaço na oferta, mas as limitações na distribuição têm travado a expansão de forma sustentável.

Com a bandeira vermelha nas tarifas de energia voltando ao cenário nacional, o interesse dos consumidores por alternativas fotovoltaicas tende a aumentar.

O desafio de planejar o futuro

O Parque Solar de Arinos representa um passo significativo na transição energética brasileira. Mas sua inauguração traz à tona a necessidade de planejar principalmente a integração e distribuição da energia produzida. Sem isso, o Brasil corre o risco de desperdiçar seu potencial – e deixar de cumprir seu papel no enfrentamento da crise climática global.