Vargas Llosa: o primeiro escritor de língua não francesa a pertencer à Academia Francesa

O escritor que personificou diversas facetas ao longo de sua trajetória faleceu no domingo (13), em Lima, aos 89 anos

, em Uberlândia

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Mario Vargas Llosa, Nobel peruano de verbo afiado e convicções firmes, dobrou a última página de sua própria narrativa. O escritor que personificou diversas facetas ao longo de sua trajetória faleceu no domingo (13), em Lima, aos 89 anos. Nos últimos anos, conseguiu um feito notável, ainda que envolto em debate: a eleição para a Academia Francesa de Letras.

Vargas Llosa
Nos últimos anos, conseguiu um feito notável, ainda que envolto em debate: a eleição para a Academia Francesa de Letras – Crédito: Reprodução Internet

Eleito para a prestigiada instituição em 25 de novembro de 2021, e tomando posse em 9 de fevereiro de 2023, Vargas Llosa quebrou barreiras e tradições ao se tornar o primeiro membro em séculos cuja obra literária principal foi escrita em espanhol. Este feito histórico, ocorrido quando o autor já tinha 85 anos, desafiou a regra não escrita da Academia de não admitir membros com mais de 75 anos, sublinhando a excepcionalidade de sua figura.

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A decisão, no entanto, não foi isenta de controvérsia. As posições políticas liberais de Vargas Llosa, frequentemente vistas como conservadoras por críticos na Europa e América Latina, geraram debates acalorados. Para muitos, a eleição de Vargas Llosa representou um gesto de universalismo da Academia Francesa, reconhecendo a magnitude de sua contribuição literária independentemente do idioma. Para o próprio autor, um confesso admirador da literatura francesa, a entrada para o seleto grupo dos “imortais” foi a realização de um sonho de juventude.

Antes de entrar para a Academia Francesa, o autor foi consagrado com o Prêmio Nobel de Literatura em 2010. A “cartografia das estruturas de poder e suas imagens vigorosas sobre a resistência, revolta e derrota individual” foram as palavras da Real Academia Sueca para justificar a entrega do Nobel de Literatura ao autor. Além disso, também recebeu outros prêmios como Cervantes, Príncipe de Astúrias, PEN/Nabokov e Grinzane Cavour.

Vale lembrar que Vargas Llosa foi uma das figuras centrais do chamado ‘boom’ latino-americano, ao lado de outros grandes nomes como o colombiano Gabriel García Márquez, o argentino Julio Cortázar e os mexicanos Carlos Fuentes e Juan Rulfo.

Biografia

Jorge Mario Pedro Vargas Llosa nasceu em 28 de março de 1936, em Arequipa, no sul do Peru. Cresceu entre a Bolívia e o Peru, educado pela mãe e pelos avós maternos. Estudou na Academia Militar de Lima e formou-se em Letras. Ainda jovem, iniciou a carreira no jornalismo, caminho que acompanharia toda a sua vida ao lado da literatura.

Entre seus romances mais conhecidos estão: Conversa no Catedral; Pantaleão e as visitadoras; A Cidade e os Cachorros; A Guerra do Fim do Mundo, que retrata a Guerra de Canudos; A Festa do Bode; Travessuras da menina má: Tempos Ásperos.

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A obra literária do prolífico autor compõe-se de 20 romances, um livro de contos, 10 peças de teatro, 14 livros de ensaio, dois de crônicas e um de memórias, além de múltiplas coletâneas de colunas e textos avulsos. A trajetória de Mario Vargas Llosa, desde suas primeiras obras até seu ingresso na Academia Francesa, reflete uma vida dedicada à literatura e ao debate de ideias.

O escritor também era membro da Real Academia Espanhola, assim como da peruana e sócio-correspondente da Academia Brasileira de Letras (ABL). Quando recebeu o Nobel, Vargas Llosa expressou o desejo de ser lembrado primordialmente por sua obra literária, afirmando: “Quando escrevo, a política é sempre secundária, a literatura é algo maior.”