Exclusivo: brasileiro chega ao país nesta sexta após dar volta ao mundo de carona

“Quando olho para o dia em que decidi viajar, tenho a sensação de que foi ontem. Um jovem garoto com sua pequena imobiliária na querida Cuiabá. Mas, quando olho para tudo que fiz e vivi até aqui, tenho a sensação que foi há mil anos”.

É assim que Gabriel Dias, de 31 anos, começa a entrevista para o Paranaíba Mais de dentro do avião que o trará de volta ao Brasil. Ao pousar, ele terá completado a volta ao mundo.

Desde que decidiu largar tudo e viajar, ele viveu realizações, imprevistos e obstáculos.

Sua trajetória teve início na noite de 21 de outubro de 2016, quando em seu escritório decidiu que queria ir a Machu Picchu, no Peru. Após arrumar a mala e entrar no carro, as estradas o levaram para vários lugares, exceto para o destino estipulado. Gabriel foi ao Rio de Janeiro (RJ), Arraial d’Ajuda (BA), Canoa Quebrada (CE), São Paulo (SP), Sul do Brasil e, depois, voltou para Cuiabá (MT).

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De volta ao ponto de partida

Retomou sua vida, seu escritório, seu emprego como corretor de imóveis. Mas ao descobrir que foi prejudicado por um cliente, ele decidiu largar tudo e cair novamente na estrada, mas dessa vez o destino era outro: Alasca.

Mais um vez os planos não saíram como o esperado e Gabriel precisou desacelerar, dar ré, traças novos caminhos para, enfim, conseguir achar a estrada certa para seu ponto de chegada.

Do Alasca para o mundo

Após pouco mais de três anos viajando basicamente de carona, ele chegou ao Alasca. Lá, ele cultivou mais sonhos, entre eles, dar a volta ao mundo.

“Quando cheguei no Alasca meu objetivo era continuar de carona para o Japão e fazer uma volta ao mundo bem devagar, 100% de carona em navios e veleiros”.

Entretanto, ainda no Alasca, precisou ser resgatado pela polícia após viver um episódio semelhante ao do aventureiro Christopher McCandless — cuja história inspirou o livro e o filme Na Natureza Selvagem.

Durante sua jornada, o viajante decidiu visitar o famoso ônibus onde McCandless viveu seus últimos dias, nos arredores da cidade de Healy. Para chegar até o local, ele atravessou um rio congelado. No entanto, ao tentar retornar, percebeu que o gelo havia derretido e a travessia se tornara impossível — a mesma situação que impediu McCandless de sair dali, levando-o à morte por inanição.

Diferentemente do que ocorreu nos anos 1990, Gabriel contou com a sorte e a preparação da polícia local, que conseguiu resgatá-lo a tempo, evitando uma tragédia.

Após esse episódio, a pandemia e a morte de um amigo, Gabriel retornou ao Brasil. E, tão repentinamente como das vezes anteriores, decidiu novamente que era hora de viajar e dar a volta ao mundo.

“No começo do ano passado, jantava com minha mãe no sítio da minha avó, em Cândido Mota, quando a luz acabou. Do nada, decidi ir para São Paulo. Fui direto para a rodoviária, deixei o carro e embarquei sem mala, só com o celular e o passaporte. Lá, senti um desejo enorme de ir para Londres, mas achei loucura. Lembrei de um retiro de meditação e, na semana seguinte, estava em silêncio por dez dias na Amazônia. Depois disso, decidi estudar medicina no Uruguai. Estudei por três meses, mas precisei voltar ao Brasil por questões da minha empresa. Nesse período, perdi um amigo e também entrei em Burnout. Foi aí que percebi: era hora de realizar o sonho de dar a volta ao mundo”.

Gabriel conta que planejou cuidadosamente cada etapa da viagem, estudando as rotas e os destinos mais baratos. Passou por vários países, várias situações, mas algumas mais marcantes.

Em território tcheco, enfrentou um dos momentos mais difíceis da jornada: esqueceu seu casaco dentro de um carro que lhe deu carona e, junto com o casaco, perdeu o passaporte e mil dólares que havia ganhado de um amigo.

Dez dias depois, já com os documentos prontos para solicitar um novo passaporte, recebeu um e-mail inesperado da embaixada em Berlim: “seu passaporte está aqui”. O motorista que lhe deu carona estava indo para a Noruega e entregou o casaco à polícia no norte da Alemanha. Gabriel conseguiu recuperar o passaporte, mas a polícia informou que havia descartado o casaco com o dinheiro.

Realizou o sonho de conhecer Oxford, em Londres, e até de cruzar o Canal da Mancha duas vezes pegando carona. “Nem eu acredito, mas consegui cruzar o Canal da Mancha sem pagar”, relatou.

E foi assim, de carona em carona, de cidade em cidade, que Gabriel passou por vários países, atravessou continentes e realizou mais um sonho.

Hoje (30), às 14h50, o avião em que o viajante está pousará onde tudo começou: no Brasil. E é aqui que sua volta ao mundo será concluída. Com sucesso, com muita bagagem – de experiências, porque com ele, Gabrilel traz apenas algumas roupas enroladas na bandeira do Brasil.

“Pode não ser grande coisa dar uma volta ao mundo praticamente 100% do caminho por terra, com pouco dinheiro e pegando carona, mas pra mim é algo que me deixa mais forte e preparado para os desafios que estão por vir”.

Ao perguntar para Gabriel o que ele diria para quem quer seguir a mesma trajetória, ele é cauteloso, mas dá um conselho extremamente genuíno.

“Seja feliz, seja feliz. Viajando ou não, seja feliz, seja feliz!”.