Cultura e Educação: o papel das escolas na construção de identidades globais
Escolas podem formar cidadãos conscientes, empáticos e preparados para atuar em um mundo diverso e interconectado, promovendo a valorização da diversidade
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Em um mundo cada vez mais interconectado, a forma como as identidades culturais se formam e se expressam passou por profundas transformações. Neste cenário, as escolas ocupam um lugar central na formação de cidadãos que não apenas reconhecem e respeitam a diversidade, mas também se posicionam como agentes ativos em uma sociedade global.
A educação, portanto, torna-se uma ferramenta fundamental na construção de identidades globais, mediando o encontro entre culturas, saberes e valores.
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Educação e globalização: um novo paradigma
A globalização impactou diretamente o modo como compreendemos a cultura e a identidade. A circulação de pessoas, informações e bens culturais transformou os espaços educativos em ambientes onde se cruzam diferentes perspectivas do mundo.
Segundo a UNESCO, “a educação deve preparar os indivíduos para viver em uma sociedade plural, onde o respeito pelas diferenças culturais é um dos pilares da convivência”.
Nesse contexto, surge o conceito de “cidadania global”, que pressupõe o desenvolvimento de habilidades críticas, empáticas e colaborativas.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), implementada no Brasil em 2017, inclui a competência geral de “responsabilidade e cidadania”, que orienta o desenvolvimento de ações pedagógicas voltadas para a formação de estudantes conscientes de seu papel em contextos locais, nacionais e globais (BNCC, MEC).
Escolas como espaços de interculturalidade
Mais do que transmitir conteúdos, as escolas devem se posicionar como espaços de diálogo intercultural. Isso significa criar oportunidades para os estudantes compreenderem as diferenças, compartilhem experiências e questionem estereótipos.
A pesquisadora e antropóloga Néstor García Canclini defende que “as culturas contemporâneas não se formam mais em territórios fechados, mas em redes de interação e contaminação”.
Portanto, a educação que promove a interculturalidade prepara os estudantes para navegar em um mundo híbrido, onde valores locais e globais coexistem e se influenciam mutuamente.
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Diversidade cultural como valor educativo
O reconhecimento da diversidade cultural deve ser um dos pilares do currículo escolar. A inclusão de histórias, línguas, tradições e perspectivas de diferentes povos, especialmente aqueles historicamente marginalizados, contribui para a formação de uma identidade mais plural e aberta.
Dados da UNICEF indicam que as crianças expostas a contextos educativos diversos têm maior propensão a desenvolver empatia, pensamento crítico e respeito pelas diferenças (UNICEF, 2021).
Iniciativas como o Programa de Escolas Associadas da UNESCO incentivam a criação de redes escolares comprometidas com os direitos humanos, o desenvolvimento sustentável e a diversidade cultural.
Formar professores para o mundo
Para que as escolas cumpram esse papel transformador, é essencial investir na formação docente. Os professores devem ser preparados para lidar com as complexidades da diversidade cultural e das identidades em construção.
Segundo a educadora e especialista em educação comparada, Inês Barbosa de Oliveira, “o professor do século XXI precisa ser um mediador cultural, capaz de promover aprendizagens significativas em contextos marcados por tensões e desigualdades”.
Para isso, é fundamental que os cursos de formação inicial e continuada incluam temáticas como educação antirracista, direitos humanos, cultura digital e globalização.

Práticas pedagógicas para a construção de identidades globais
A implementação de práticas pedagógicas voltadas para a formação de identidades globais pode ocorrer de diversas formas:
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Projetos interdisciplinares que abordem temas globais como meio ambiente, migrações, direitos humanos e cultura da paz.
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Parcerias internacionais, promovendo intercâmbios virtuais e colaborações com escolas de outros países.
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Uso de tecnologias que permitam aos estudantes explorar outras culturas por meio de plataformas digitais, podcasts, vídeos e jogos educativos.
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Leitura de autores diversos, incluindo produções de diferentes regiões do mundo, etnias e gêneros.
Um exemplo inspirador é o projeto “Conectando Mundos”, promovido pela ONG Edualter, que permite a estudantes de diversos países desenvolverem projetos colaborativos sobre temas globais, utilizando plataformas digitais e metodologias participativas.
Desafios e perspectivas
Apesar dos avanços, ainda há desafios significativos para consolidar o papel das escolas na construção de identidades globais. A resistência a mudanças curriculares, a falta de formação continuada, a escassez de recursos e a desvalorização da profissão docente são alguns dos entraves apontados por especialistas.
Por outro lado, o crescimento de redes de educação inovadora e o fortalecimento de políticas públicas voltadas à inclusão e à diversidade são sinais positivos. Organizações como a Global Education Monitoring Report (GEM Report) da UNESCO têm chamado a atenção para a importância de integrar perspectivas globais nos sistemas educacionais, como forma de promover a equidade e a paz mundial.