Congado se torna Patrimônio Cultural Brasileiro com ação de Uberlândia
Decisão foi tomada na terça-feira (17) durante a 109ª reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, realizada na sede do Iphan
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As festas do Rosário, Reinados, Congados e Congadas foram oficialmente reconhecidas como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, após 17 anos de tramitação. A decisão foi tomada na tarde desta terça-feira (17), durante a 109ª reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, realizada na sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Belo Horizonte.

O pedido de reconhecimento foi protocolado pela Prefeitura de Uberlândia em 2008, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (SMCT). Desde então, o processo envolveu análises técnicas, produção de documentação, mapeamentos, registros audiovisuais e seminários. Com a decisão, a Congada se torna Patrimônio Cultural Brasileiro com ação de Uberlândia.
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A reunião foi transmitida ao vivo no Cineteatro Nininha Rocha, no Centro Municipal de Cultura, onde representantes da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, congadeiros, autoridades e membros da comunidade celebraram a conquista.
O presidente da Irmandade, Denílson Nascimento, destacou a importância do reconhecimento.
“Essa é uma conquista muito importante para o movimento do congado, que agora passa a ter mais visibilidade e respeito em nível nacional. Isso nos dá força para pleitear políticas públicas e recursos, além de garantir a proteção desse patrimônio, que é cultural, religioso e histórico. Foram anos de resistência, enfrentando preconceito e racismo, e hoje a sociedade tem a oportunidade de enxergar a importância da Congada para nossa nação”, afirmou.
Nascimento também ressaltou que o título contribui para a continuidade da tradição. “O governo federal reconhece nossa relevância cultural e esperamos que, além do reconhecimento, venham políticas públicas para fortalecer ainda mais esse movimento que é de fé, cultura e resistência.”
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Processo histórico iniciado em Uberlândia
O processo começou em 2008, ainda na gestão do então prefeito Odelmo Leão, quando foi formalizada a solicitação ao Iphan e contou com as prefeituras de Campos Altos, Frutal, Ibiá, Monte Alegre de Minas e Uberaba para fazer o pedido.
A tramitação incluiu análises técnicas, visitas a comunidades congadeiras, registros de práticas, além da produção de documentos e vídeos.

O prefeito Paulo Sérgio também comemorou a decisão, “A Congada está na nossa história, na nossa cultura, faz parte de nossas raízes. Merece esse reconhecimento. Essa foi uma relevante e decisiva solicitação feita por Uberlândia, e, agora, o Iphan oficializou esse patrimônio que representa nossa tradição e identidade”, declarou.
Raízes africanas
O congado, também chamado de Congada ou Reinado, é uma manifestação cultural e religiosa afro-brasileira, com raízes nos povos do Congo, Angola e Moçambique, que foi trazida ao Brasil pelos povos escravizados.
Misturando elementos africanos com tradições católicas, a festa celebra santos como Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia, considerados protetores dos negros escravizados.
A dança da congada representa a coroação simbólica do rei do Congo, além de encenar, nas coreografias, lutas entre mouros e cristãos. Os cortejos são formados pelos chamados ternos ou guardas, liderados por mestres que conduzem os cânticos, os ritmos e os passos.
Atualmente, estima-se que existam mais de 1.000 grupos ativos em Minas Gerais, incluindo congadeiros, moçambiqueiros, catopês, marujos e candombes.
O que muda com o reconhecimento
A partir da decisão do Iphan, o título segue para homologação pelo Ministério da Cultura, publicação no Diário Oficial da União (DOU) e, por fim, inscrição no Livro de Registro dos Saberes, etapa que formaliza o bem como patrimônio nacional.
O registro garante que o Estado se comprometa a adotar políticas públicas de preservação e valorização, contribuindo para que a Congada permaneça viva para as próximas gerações.