Com livro sobre Alzheimer, Flávia Péret narra perdas da memória com poesia e sensibilidade

"Coisas presentes demais" mergulha no Alzheimer da avó e transforma lembranças em narrativa poética sobre amor, identidade e o ato de recordar

, em Uberlândia

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O que se perde quando a memória começa a desaparecer? Essa é a pergunta que guia “Coisas presentes demais”, novo livro da escritora e pesquisadora mineira Flávia Péret. A obra, que transforma o esquecimento em literatura, reúne fragmentos de lembranças e reflexões da autora diante da realidade vivida pela avó, diagnosticada com Alzheimer.

Capa do livro "coisas presentes demais", ao lado da foto de Flávia Peret, a autora
Obra de Flávia Péret apresenta uma investigação íntima sobre a linguagem, memória e esquecimento a partir do diagnóstico de Alzheimer da avó – Crédito: Divulgação

Com uma escrita que se propõe a ser delicada e contundente, em “Coisas presentes demais”, Flávia Péret constrói uma narrativa em mosaico que se move entre visitas à casa de repouso e recordações da infância. Ao revisitar a relação com a avó, a autora buscou costurar afetos, silêncios e imagens, explorando como a memória molda não apenas quem se foi, mas também quem se torna.

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Em “Coisas presentes demais”, a avó, uma mulher fascinante nascida em 1930, escapa ao papel tradicional que lhe foi imposto e se revela em cores, roupas, expressões e manias. A neta, por sua vez, encontra nesse processo de rememoração um espelho da própria condição feminina, refletindo sobre identidade, herança e amor.

“Sigo em busca de uma imagem síntese que traduz com exatidão a essência luminosa e desafiadora da avó”, escreve Flávia Péret, que nos últimos anos tem trabalhado com pesquisas e processos no campo da palavra e sua interseção com outras linguagens.

Trechos da obra evidenciam a força poética do livro: “Às vezes, quando estamos tentando nos comunicar, a porta automática do apart-hotel para velhos se abre e a avó olha em direção à rua. Nessa fração de tempo, suficiente para produzir um átimo de lucidez, ela me pergunta: o que é aquilo lá dentro?”

Ao transformar o esquecimento em narrativa, “Coisas presentes demais” se impõe como um convite a olhar para a memória não apenas como registro do passado, mas como gesto vivo de amor, resistência e imaginação.

Sobre Flávia Péret

Reconhecida por transitar entre literatura, memória e experimentações com outras linguagens, Flávia Péret nasceu em Ouro Preto no ano de 1978. Escritora, professora de criação literária e pesquisadora, publicou Imprensa Gay no Brasil; 10 Poemas de Amor e de Susto; Outra Noite; Novelinha; Uma Mulher; Os Patos; Mulher-Bomba; Instruções para montar mapas, cidades e quebra-cabeças. Em 2018, Flávia recebeu o prêmio Jean-Jacques Rousseau, da Akademie Schloss Solitude (Alemanha) pelo projeto Uma Mulher (livro e site de escrita expandida). Em 2010, venceu o prêmio Memória do Jornalismo Brasileiro, promovido pela Folha de S.Paulo.