Cinco anos depois, espetáculo retorna aos palcos com sessões gratuitas
Grupo Flores de Teatro reestreia peça que retrata as memórias de uma mulher internada à força e revela um passado sombrio dos hospitais psiquiátricos no Brasil
Entre cartas não enviadas, traumas silenciados e um palco que se transforma em cela, o grupo mineiro Flores de Teatro reestreia, neste fim de semana, o espetáculo Sobre ratos, maridos e pulgas, em Uberlândia. A peça, que volta aos palcos após cinco anos de sua estreia, mergulha nas lembranças de uma mulher internada em um espaço manicomial e reacende discussões urgentes sobre saúde mental, violência doméstica e o histórico de exclusão social promovido pelos antigos hospitais-colônia. Com sessões gratuitas nos dias 7 e 8 de junho na sede da Associação de Teatro de Uberlândia (ATU), e outra no dia 15 no Centro de Artes e Esporte Unificados Olímpio Silva “Pai Nêgo” (CEU), no Shopping Park. O espetáculo aposta na força da memória para abrir espaço a vozes historicamente silenciadas.

Na trama, a personagem principal, interpretada pela atriz Roberta Liz, está confinada em uma instituição psiquiátrica. Interrogada por um médico, ela revive passagens marcantes de sua vida – a perda da filha, o abandono materno e os abusos do marido – narradas em cartas nunca entregues. A encenação transforma o quarto frio do hospital em um espaço de confissão e resistência, onde a dor ganha corpo, voz e presença.
O texto, escrito por Luiz Leite durante uma residência teatral no Equador, foi inspirado em correspondências reais de três mulheres marcadas por internações compulsórias: Pierina Cechini, que matou a filha de 17 meses e foi enviada ao Hospício São Pedro, no Rio Grande do Sul; Camille Claudel, escultora francesa que passou três décadas internada na França; e Rosa Luxemburgo, ativista assassinada após anos de repressão política, que escreveu sobre os horrores da Primeira Guerra enquanto estava presa.
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Além do caráter biográfico, a peça carrega forte crítica social. A narrativa aponta os manicômios brasileiros como espaços de exclusão, que abrigaram – e muitas vezes exterminaram – não só pessoas diagnosticadas com transtornos mentais, mas também mães solteiras, usuários de álcool, LGBTQIAPN+, pessoas em situação de rua, com deficiência ou hanseníase. Um dos casos mais emblemáticos foi o do Hospital Colônia de Barbacena (MG), onde mais de 60 mil mortes foram registradas até os anos 1980, segundo levantamento do Instituto Geledés.
A nova montagem mantém o tom intimista e poético da primeira versão, mas traz uma proposta cênica renovada, agora com a participação do ator Lupac, sob a direção de Vilma Campos e Maria De Maria. A linguagem do grupo continua marcada pela exploração de temas como exílio, violência e saúde mental, costurados por referências à guerra, ditaduras e migrações.
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“A história é a mesma, mas o tempo trouxe maturidade. A peça cresceu, ganhou novas camadas e pretende continuar criando espaços de escuta e reflexão”, afirma Roberta Liz, que também assina a dramaturgia da montagem.
A circulação do espetáculo tem apoio da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), do Ministério da Cultura, e da Secretaria de Cultura e Turismo de Uberlândia, com suporte da ATU.
Além das apresentações abertas ao público, haverá uma sessão privada para pacientes em acompanhamento psicológico, no dia 12 de junho, reafirmando o compromisso do grupo com o acesso à cultura como ferramenta de cuidado e inclusão.
Espetáculo teatral: “Sobre ratos, maridos e pulgas”
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7 de junho (sábado), às 20h – Sede da ATU, com bate-papo após a apresentação
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8 de junho (domingo), às 19h – Sede da ATU, com acessibilidade em Libras
Rua Guaicurus, 437 – Bairro Saraiva
Entrada gratuita com reserva no Sympla
Sessão extra:
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15 de junho (domingo), às 16h – CEU Shopping Park
Rua Juvenília Mota Leite, 700 – Shopping Park
Entrada gratuita sem necessidade de reserva
Classificação indicativa: 14 anos