Ligações indesejadas levam população a optar por mensagens

O aumento expressivo de chamadas telefônicas indesejadas – que incluem desde telemarketing agressivo e tentativas de golpes financeiros até o uso massivo de robôs de chamadas (robocalls) – está redefinindo a forma como os brasileiros se comunicam, especialmente entre as novas gerações.

Diante desse cenário de crescentes ameaças digitais, grande parte da população tem evitado atender ligações de números desconhecidos, buscando maior controle, privacidade e segurança. A preferência tem migrado para o uso de mensagens de texto via aplicativos como WhatsApp e Telegram.

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Este comportamento é ilustrado pelo cotidiano de muitas pessoas, como a copeira Lucimara Kelly Alves Oliveira. Ela relata que recebe cerca de dez ligações indesejadas por dia e, por isso, mudou seu hábito: “A maioria das pessoas que querem falar comigo usam o WhatsApp. Quando ligam, eu não atendo. Principalmente quando é DDD 011 ou 034, que eu sei que é ligação de telemarketing ou golpe”. Lucimara conta com a ajuda de aplicativos que identificam e avisam quando uma chamada é suspeita de spam.

Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), cerca de 20 bilhões de ligações são disparadas mensalmente no Brasil, sendo que 10 bilhões são realizada por robocalls. Grande parte dessas chamadas envolve ofertas comerciais não solicitadas, propostas financeiras indesejadas ou tentativas de golpe phishing, onde criminosos se disfarçam para roubar dados pessoais.

Essa aversão às chamadas tradicionais reflete uma transformação cultural mais ampla. A comunicação escrita via texto ou aplicativo é percebida como mais segura, prática e menos invasiva do que as ligações diretas. Enquanto no passado a chamada de voz era o principal meio de contato, hoje é frequentemente vista como uma opção secundária.

Embora essa tendência seja mais acentuada entre os jovens, faixas etárias mais velhas também têm adotado os aplicativos de mensagem em maior escala.

No entanto, essa desconfiança generalizada gera um efeito colateral: a dificuldade para comunicações importantes. Especialistas alertam que instituições essenciais como hospitais, escolas e até serviços de emergência relatam problemas para contatar pacientes ou responsáveis, pois suas ligações de números não salvos não são atendidas.

Para contornar essa barreira, algumas instituições estão se adaptando, passando a enviar mensagens de texto ou e-mails prévios para informar sobre a chamada que será realizada, uma prática que tende a se tornar um padrão em diversos setores.

Mesmo com a existência de legislação de proteção de dados e uma plataforma para bloqueio de chamadas de telemarketing, as chamadas inoportunas e fraudulentas persistem em volume considerável no Brasil. A percepção geral é que a aplicação efetiva das regras e a tecnologia de bloqueio enfrentam desafios contínuos devido à sofisticação das táticas utilizadas por spammers e golpistas.