Como a pandemia da Covid-19 impactou a saúde mental e os relacionamentos dos brasileiros

A pandemia da Covid-19, declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em março de 2020, trouxe mudanças profundas para a sociedade brasileira. Além dos impactos diretos na saúde física e na economia, o vírus também desencadeou uma crise na saúde mental e nos relacionamentos interpessoais.

Segundo dados da OMS, os casos de ansiedade e depressão aumentaram em 25% no primeiro ano da pandemia globalmente. No Brasil, pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelam que milhões de pessoas enfrentaram transtornos psicológicos, solidão e conflitos familiares durante o isolamento social.

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O aumento dos transtornos

Um estudo da Fiocruz, realizado em 2021, mostrou que 35% dos brasileiros relataram sintomas de ansiedade ou depressão durante a pandemia. Entre os jovens de 18 a 29 anos, esse percentual chegou a 56%, evidenciando uma crise geracional agravada pelo isolamento e incertezas econômicas.

A OMS já alertava, desde 2020, que a pandemia poderia desencadear uma “segunda onda” de problemas mentais. No Brasil, o Ministério da Saúde registrou um aumento de 90% nas prescrições de ansiolíticos e antidepressivos entre 2019 e 2021.

“A pandemia foi um gatilho para transtornos mentais em pessoas que nunca haviam apresentado sintomas antes. O medo da doença, o luto pelos entes perdidos e o desemprego contribuíram para esse cenário”, disse a Dra. Alexandrina Meleiro, psiquiatra e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Síndrome do Burnout

Profissionais de saúde e trabalhadores essenciais foram os mais afetados pelo esgotamento mental. Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) apontou que 80% dos médicos e enfermeiros que atuaram na linha de frente desenvolveram sintomas de burnout.

Além disso, muitos sobreviventes da covid-19 relataram sequelas psicológicas, como medo persistente, insônia e estresse pós-traumático.

Isolamento Social

O distanciamento social foi crucial para conter o vírus, mas trouxe consequências graves para a saúde mental, especialmente entre os idosos. Segundo o IBGE, 30% dos brasileiros com mais de 60 anos relataram sentir solidão intensa durante a pandemia.

Muitos idosos ficaram meses sem contato físico com familiares, aumentando os riscos de depressão e declínio cognitivo.

Para adolescentes e jovens adultos, a privação de convívio social e a suspensão das aulas presenciais agravaram sentimentos de isolamento. Uma pesquisa da Unicef mostrou que 56% dos jovens brasileiros se sentiram mais ansiosos devido à pandemia.

Relacionamentos em crise

O confinamento prolongado intensificou tensões familiares. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública indicam que as denúncias de violência doméstica aumentaram 22% em 2020.

O Disque 100 (canal de denúncias do governo federal) registrou um crescimento de 40% nas ligações relacionadas a abusos durante o lockdown.

Escritórios de advocacia relataram um aumento de 30% nos pedidos de divórcio após o primeiro ano de pandemia. Psicólogos atribuem esse fenômeno ao estresse acumulado, convivência excessiva e divergências financeiras.

“Casais que já tinham problemas prévios viram essas questões se intensificarem. A falta de espaço pessoal e a incerteza sobre o futuro pesaram muito”, diz Carlos André, terapeuta de casais e autor de estudos sobre relacionamentos.

Adaptação

A telemedicina se tornou uma aliada no tratamento da saúde mental. Segundo o Conselho Federal de Psicologia (CFP), as consultas online cresceram 400% durante a pandemia.

Plataformas de terapia online, como Vittude e Zenklub, registraram alta demanda, mostrando que os brasileiros buscaram mais apoio psicológico.

Apesar dos desafios, muitas famílias e amigos se aproximaram através de videochamadas e redes sociais. Pesquisas indicam que 70% dos brasileiros passaram a valorizar mais os relacionamentos após a pandemia.

Lições

A Covid-19 deixou marcas profundas na saúde mental e nos relacionamentos, mas também trouxe aprendizados.

A importância da saúde mental – A pandemia quebrou tabus e incentivou mais pessoas a buscarem terapia.

Resiliência emocional – Muitos brasileiros desenvolveram novas formas de lidar com crises.

Valorização dos laços afetivos – A falta de contato físico mostrou o quanto relações pessoais são essenciais.