Veja o vídeo do abate do javali gigante; espécie preocupa produtores de Minas

Invasão cresce em municípios do Alto Paranaíba e do Triângulo Mineiro, regiões com grande produção de grãos, como milho e sorgo

, em Uberlândia

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Um javali gigante com cerca de 300 quilos e 2,40 metros de comprimento foi abatido no último domingo (27) nas proximidades de uma usina de cana-de-açúcar em João Pinheiro, no Noroeste de Minas Gerais. O animal, de proporções incomuns, foi localizado por dois caçadores com o apoio de cães farejadores treinados e tecnologia de rastreamento via GPS. O abate representa o aumento da espécie em regiões produtoras como o Triângulo Mineiro e o Alto Paranaíba.

Javali gigante é abatido em Minas Gerais
Javali gigante é abatido em João Pinheiro, em Minas Gerais. Crédito: Ronaldo Simões/Divulgação

Em uma entrevista exclusiva para o Portal Paranaíba, Ronaldo Simões, o instrutor responsável pelo treinamento dos caçadores Reginaldo e Elias, que abateram o javali gigante conta que mobilizou cães farejadores que percorreram mais de 5 quilômetros de mata fechada, com o auxílio de rastreadores GPS. Em ações semelhantes, caçadores utilizam também mirada termal para localizar os animais durante a noite. Mesmo com esses recursos, o controle da espécie segue sendo um desafio complexo, que exige cooperação entre produtores, caçadores e órgãos públicos.

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Veja o vídeo:

Javali gigante de João Pinheiro

O javali gigante pesava aproximadamente 300 kg e média cerca de 2,40 metros de comprimento e 1,55 metro de altura. Segundo Ronaldo, o exemplar abatido apresentava ferimentos profundos, possivelmente causados em disputas territoriais com outros javalis de igual ou maior porte, o que reforça a suspeita de que ainda existam mais animais grandes circulando na mesma região. A operação seguiu os critérios exigidos pela legislação ambiental e envolveu apenas caçadores credenciados como CACs (Colecionadores, Atiradores desportivos e Caçadores), que possuem autorização legal para o manejo da espécie.

Nos últimos anos, Minas Gerais tem vivenciado uma expansão da presença do javali, animal originário da Europa e considerado uma das 100 espécies exóticas invasoras mais danosas do mundo à biodiversidade, agricultura e à economia, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). O impacto atinge principalmente o agronegócio, com relatos de danos em lavouras de milho, pastagens, ataques a criações e destruição de nascentes.

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Aumento da espécie na região

Dados do Sistema Faemg Senar apontam que o estado já registra a presença da espécie em 198 municípios, sendo 64 classificados com prioridade extremamente alta para prevenção ambiental. Nessas áreas, como Tupaciguara, no Triângulo Mineiro, os relatos se multiplicam entre produtores.

A presidente do Sindicato Rural de Tupaciguara, Kátia Moura, relata “estimamos uma perda de cerca de 20% nas lavouras de milho e sorgo”, afirma. Segundo ela, a principal estratégia utilizada pelos produtores da região é a caça, mas os resultados ainda são insuficientes. “Mesmo abatendo três ou quatro javalis, a fêmea chega a parir de oito a dez filhotes, o que torna o controle praticamente inviável”, explica.

Uma audiência pública foi realizada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) em abril deste ano. Parlamentares, representantes do setor rural e autoridades ambientais debateram estratégias para conter o avanço dos javalis. O consenso foi de que o controle, embora permitido pelo Ibama desde 2013, ainda esbarra em burocracias.

“Deveríamos dar mais atenção a esse problema, pois a população desses animais só cresce. Além disso, o caçador que atua no manejo técnico ainda enfrenta desvalorização, quando deveria ser reconhecido como parte da solução”, disse Ronaldo Simões.

Controle e exigências legais

A legislação brasileira permite o manejo populacional do javali por meio da caça controlada, desde que o interessado esteja regularmente inscrito no Cadastro Técnico Federal do Ibama, com autorização do Exército para uso de armas de fogo e consentimento do proprietário rural. Também são exigidas prestações de contas periódicas ao órgão ambiental.

A criação do javali em cativeiro, para qualquer fim, é proibida no Brasil, justamente por se tratar de uma espécie exótica invasora, cuja presença representa riscos à biodiversidade, à agricultura e até à saúde pública.

Segundo estimativas de pesquisadores e ambientalistas, o Brasil poderá ter de abater mais de 1 milhão de javalis até 2025 para conter os danos e controlar a população crescente do animal.