Mãe de pet também é mãe? Saiba o que dizem os especialistas
Em 2024, o Brasil registrou cerca de 160,9 milhões de animais de estimação, número quatro vezes maior que a população de crianças de até 12 anos, estimada em 40 milhões pelo IBGE
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Mãe de pet também é mãe? Com a proximidade do Dia das Mães, a discussão volta à tona nas redes sociais, afinal quem cuida de um animal de estimação pode se considerar mãe. A polêmica em torno da expressão “mãe de pet” divide opiniões, mas está longe de ser apenas uma provocação virtual. Ela reflete mudanças sociais na forma como as pessoas se relacionam com os animais e como compreendem a maternidade em seus diferentes contextos.

Estudos científicos ajudam a explicar por que tantas mulheres se identificam como mães de pets. Uma pesquisa publicada na revista Science, realizada pela Universidade de Azabu, no Japão, mostrou que o simples ato de olhar nos olhos do seu cachorro aumenta os níveis de ocitocina tanto no tutor quanto no animal. Esse hormônio, conhecido como “hormônio do amor”, é o mesmo liberado durante o contato entre mãe e filho humano, sendo responsável pela criação de laços afetivos.
A ocitocina está diretamente associada a sentimentos de afeto, empatia e cuidado. Ela também atua na redução do estresse, na melhora do sono e no fortalecimento da conexão social, o que reforça a ideia de que os laços entre humanos e animais não são meramente simbólicos, eles também são fisiológicos.
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Se há poucas décadas os animais viviam fora das casas, atualmente a realidade é outra. Muitos cães e gatos dormem na cama dos donos, participam de sessões de fotos em família e até usam roupas personalizadas. Em 2024, o país alcançou a marca de aproximadamente 160,9 milhões de pets, incluindo cães, gatos, aves e outros animais domésticos. Em contraste, o número de crianças nessa faixa etária é estimado em cerca de 40 milhões, de acordo com dados do IBGE.
O crescimento do mercado pet no Brasil
Com essa mudança de status, os gastos com animais também aumentaram. Um levantamento da plataforma Ame, ligada à Americanas, mostrou que os brasileiros gastam, em média, R$ 200 por mês com seus pets — entre alimentação, higiene, brinquedos e serviços. Em 2024, o setor movimentou cerca de R$ 77 bilhões, representando um crescimento de aproximadamente 12% em relação a 2023 . Esse desempenho consolida o Brasil como o terceiro maior mercado pet do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da China .
Essa relação afetiva cada vez mais próxima tem impulsionado outros mercados. O número de planos de saúde pet, por exemplo, cresceu significativamente nos últimos anos. A Petlove, uma das maiores plataformas do setor por exemplo, afirma contar com mais de 400 mil animais em seu plano de assistência. Além disso, já é possível encontrar creches para cães, terapias comportamentais, spas, academias e até “guarda compartilhada” de animais após separações conjugais. Esses dados refletem a presença dos pets como membros legítimos da família — especialmente entre mulheres que escolhem não ter filhos humanos.
Perigos da humanização
Ainda assim, muitas mães de filhos humanos não se sentem confortáveis com a equiparação. Isso porque a maternidade tradicional está cercada de desafios sociais, emocionais e profissionais que não se aplicam aos tutores de pets.
A proximidade afetiva entre tutores e animais, no entanto, exige limites. Especialistas em comportamento animal alertam para os riscos da humanização excessiva. Tratar o pet como um bebê pode resultar em problemas sérios de saúde física e mental.
Entre os comportamentos prejudiciais estão o sedentarismo, ansiedade de separação, agressividade, obesidade e comportamentos destrutivos. Um exemplo frequente é o uso de carrinhos para passeio, que limitam a atividade física do animal e prejudicam seu comportamento natural. Outro é a oferta de alimentos humanos, que pode causar intoxicações e desregular a dieta.
Aproximadamente 60% dos cães e gatos estão com sobrepeso ou obesidade. Devido, em parte, ao ônus e ao custo da posse moderna de animais de estimação – taxas veterinárias, cuidadores de animais, hospedagem – mais pessoas estão abandonando animais em abrigos, levando a taxas mais altas de eutanásia. Em 2023, mais de 359 mil cães foram sacrificados nesses lugares, um recorde de cinco anos, de acordo com o grupo de defesa dos animais, Shelter Animals Count.
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Cuidar é também adotar
Enquanto muitos animais vivem cercados de cuidados, milhões ainda esperam por uma chance. Segundo o Instituto Pet Brasil, há cerca de 185 mil cães e gatos resgatados de situações de abandono ou maus-tratos, atualmente sob tutela de ONGs e protetores independentes.
A adoção responsável é uma forma de exercer a maternidade afetiva e contribuir com a redução dos índices de abandono.
Mãe de pet com consciência
Ao considerar um pet como parte da família, é fundamental compreender que cada animal precisa de estímulos específicos, espaço para expressar comportamentos naturais e uma rotina compatível com sua biologia.
Ser mãe de pet é, para muitas mulheres, uma escolha afetiva legítima e carregada de significado. O amor dedicado, o tempo investido e a preocupação com o bem-estar do animal reforçam esse papel. Mas, assim como a maternidade humana, exige responsabilidade, limites e respeito à individualidade do outro — mesmo que esse outro tenha quatro patas.