Javali atinge lavouras em cerca de 400 cidades de Minas, incluindo Triângulo e Alto Paranaíba

Nas áreas de maior incidência, como Uberlândia, Patrocínio, Unaí e Poços de Caldas, produtores rurais relatam lavouras inteiras destruídas em uma única noite

, em Uberlândia

A presença descontrolada do javali-europeu (Sus scrofa) e de seus híbridos com porcos domésticos, os chamados javaporcos, preocupa ainda mais os produtores rurais, ambientalistas e autoridades em Minas Gerais. Considerados espécies invasoras, esses animais já foram registrados em quase 400 municípios mineiros, com maior concentração no Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba, Noroeste e Sul do estado.

Javali atinge lavouras em Minas e colocam campo e meio ambiente em alerta
Javali atinge lavouras em Minas e colocam campo e meio ambiente em alerta – Crédito: Freepik/ Divulgação

As consequências da invasão vão além dos prejuízos econômicos. Relatos indicam destruição de lavouras, danos a nascentes e matas nativas, ataques a pequenos animais silvestres e ameaças à segurança sanitária e ambiental. Em abril, o javali foi oficialmente reconhecido como praga agrícola durante audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

“O javali é uma praga que destrói as nossas plantações, entre elas, soja, milho e cana”, declarou Ebinho Bernardes, vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg).

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Híbridos ainda mais perigosos

Além do javali europeu, que foi introduzido no Brasil a partir de iniciativas de criação comercial nos anos 1990, hoje o cenário é agravado pela presença dos javaporcos,  resultado do cruzamento com porcos domésticos.

Esses híbridos são mais adaptados ao clima brasileiro, reproduzem com mais facilidade e têm maior resistência ao controle humano.

A reprodução acelerada é uma das maiores preocupações: cada fêmea pode gerar até oito filhotes por ninhada, e ter várias ninhadas por ano. Estimativas indicam que o javaporco já é mais comum do que o javali puro em algumas regiões.

Em João Pinheiro, no Noroeste mineiro, um javali gigante com cerca de 300 quilos e 2,40 metros de comprimento foi abatido no último mês. O caso ilustra o grau de adaptação e o potencial destrutivo desses animais.

Impactos nas regiões mais afetadas

Nas áreas de maior incidência, como Uberlândia, Patrocínio, Unaí e Poços de Caldas, os prejuízos se acumulam. Produtores rurais relatam lavouras inteiras destruídas em uma única noite.

Além disso, há registros de riscos sanitários, com possibilidade de transmissão de doenças como leptospirose e peste suína clássica.

Nas áreas de mata, os animais afetam o equilíbrio ecológico ao predar ovos de aves nativas, escavar o solo e competir com outras espécies por alimento. Também há casos de acidentes de trânsito provocados por colisões com grupos desses animais nas estradas rurais.

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Plano-piloto tenta conter avanço

Para enfrentar o problema, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e o Instituto Estadual de Florestas (IEF) iniciaram um plano de controle na região do Parque Nacional da Serra do Cipó, uma das áreas mais sensíveis do ponto de vista ecológico. A iniciativa prevê:

  • Mapeamento da presença dos animais;

  • Educação ambiental com moradores e produtores;

  • Estratégias de contenção e controle populacional.

A expectativa é que o modelo possa ser replicado em outras regiões do estado.

Projeto de lei busca regulamentar o manejo

Tramita na ALMG o Projeto de Lei 1.858/2023, que propõe a regulamentação do controle populacional dos javalis e de todos os seus cruzamentos, como os javaporcos. O texto recebeu apoio de sindicatos e entidades do setor agropecuário, que defendem medidas urgentes para conter a expansão dos animais.

O PL prevê autorizações para manejo, inclusive por meio de caça controlada e capacitada, além da possibilidade de regulamentar práticas de controle em propriedades privadas com apoio técnico.