Jaguatirica Pituca é alvo de disputa judicial entre influenciadora e Ibama
Luciene Cândido, que acumula 500 mil seguidores nas redes, publicava diariamente vídeos com o animal; criadora recebeu multa de R$ 10 mil e entrou na Justiça pedindo a devolução do animal
A jaguatirica Pituca é alvo de disputa judicial entre influenciadora e Ibama. A espécie foi batizada de Pituca pela influenciadora digital Luciene Cândido, 42 anos, no interior do Pará. O animal foi apreendido pelo instituto em abril deste ano sob alegação de maus-tratos, manutenção ilegal em cativeiro e exploração comercial de imagem.

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Luciene Cândido, que acumula mais de 500 mil seguidores no Facebook, Instagram e TikTok, publicava diariamente vídeos com a jaguatirica, que se tornou conhecida nas redes. A criadora recebeu multa de R$ 10 mil e entrou na Justiça pedindo a devolução do animal.
Mobilização pressiona pela volta de Pituca
O caso provocou forte comoção online. Uma petição digital intitulada “Libertem a Pituca” já soma mais de 27 mil assinaturas, com apoiadores argumentando que o felino era bem tratado e vivia livre na propriedade rural da família. A defesa da influenciadora afirma que ela não busca a guarda definitiva da jaguatirica, mas sua devolução a área de mata contígua à fazenda onde mora.
Em vídeos publicados nas redes sociais a influenciadora afirma: “cada dia que passa a saudade e o amor por vc aumenta mais ” e os internautas comentam: “quer um felino de estimação? Adote um gatinho!”, enquanto outros refutam “animal condenado a prisão perpétua por ser socorrida pelo um humano que só deu amor e carinho e cuidados especiais.”
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Passado do casal pesa na avaliação do órgão ambiental
A polêmica reacendeu também outro episódio envolvendo o marido da influenciadora, Clayton Pires Cabral, que chegou a ser preso em 2021 por caça ilegal e porte de arma após uma denúncia no Mato Grosso. Na ocasião, foram encontrados um jacaré e dois veados mortos, além de munição. Ele admitiu o crime, mas disse ter caçado apenas “para alimentar a família”. O caso acabou arquivado sem condenação. Para o Ibama, esse histórico reforça a suspeita de captura irregular de animais silvestres.
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O tráfico de animais ocupa a terceira posição entre as atividades ilícitas mais lucrativas do mundo, de acordo com o Ibama, movimentando aproximadamente US$ 10 bilhões anualmente. O Brasil, detentor da maior biodiversidade do planeta, abriga centenas de milhares de espécies de fauna e flora distribuídas por biomas como Amazônia, Cerrado, Pantanal, Caatinga, Mata Atlântica e Pampas. Esses ecossistemas concentram animais silvestres de grande importância ecológica, muitos deles exclusivos do país e já ameaçados de extinção.
Relatos sobre a origem e saúde do animal
Luciene Cândido afirma que Pituca foi encontrada ainda filhote, ferida, por um cão da família. Segundo ela, o animal foi levado para casa por não haver sinais da mãe e recebeu cuidados veterinários.
O Ibama, por outro lado, sustenta que o vídeo em que a influenciadora relata o episódio é indício de caça da mãe da jaguatirica ou de retirada do filhote de seu habitat natural, o que configura como crime ambiental.

Segundo informações apuradas pela BBC, após a apreensão, técnicos do Ibama relataram que a jaguatirica apresentava queda de pelos, infestação de parasitas, baixo peso, desgaste dentário e comportamento manso, incompatível com a espécie.
Já a influenciadora apresentou um laudo veterinário particular afirmando que o animal estava em bom estado geral, com dieta natural e ambiente que “simulava condições de vida silvestre”.
O Ibama contestou a validade do documento, já que teria sido feito apenas com base em vídeos e fotos, sem exame presencial.
Justiça oscilou em decisões
Em maio, uma decisão da 2ª Vara Federal de Santarém determinou a anulação das multas e a devolução do animal à família, sob a condição de monitoramento mensal do Ibama. O juiz argumentou que, na Amazônia, é comum a convivência espontânea entre humanos e animais silvestres. No entanto, em agosto, o Ibama recorreu, e o Tribunal Federal suspendeu a devolução, destacando que a posse irregular do animal e a exploração de sua imagem configuram infrações ambientais.
Ibama apreende jaguatirica e disputa continua
Ainda conforme a BCC, atualmente, Pituca segue em um Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) sob responsabilidade do Ibama. O órgão avalia se o animal poderá ser solto na natureza ou destinado a instituições conservacionistas.
O advogado de Luciene já recorreu da última decisão e afirma que o confinamento no Cetas caracteriza maus-tratos. Já o Ibama reforça que a manutenção da jaguatirica com a influenciadora seria um retrocesso na política de conservação da fauna silvestre.
Enquanto a disputa judicial avança, o caso segue mobilizando a opinião pública e alimentando o debate sobre criação de animais silvestres, exploração digital e proteção ambiental no Brasil.