Do acaso ao cultivo: a história do francês que produz baunilha no Cerrado
O que começou com duas mudas esquecidas virou um modelo de produção agroflorestal; iguaria pode ultrapassar R$ 4 mil o quilo
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No coração do Cerrado brasileiro, entre as serras e campos de Cocalzinho de Goiás (GO), um francês encontrou não apenas um lar, mas também uma missão. Daniel, um pesquisador nato, chegou ao Brasil há mais de 30 anos e decidiu transformar sua fazenda em um modelo de produção agroecológica.
Sem agrotóxicos, sem pressa, apenas com a intenção de aprender e compartilhar. E foi assim, quase sem querer, que nasceu sua paixão e cultivo da baunilha no Cerrado.
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A história da produção de baunilha na fazenda do Sr. Daniel começou de maneira despretensiosa. Durante uma visita ao Jardim Botânico de Brasília, ele comprou duas mudas da orquídea Vanilla, uma planta pouco conhecida no Cerrado. “Plantei e esqueci”, conta ele, com um sorriso de quem reconhece a ironia do destino.
O tempo passou e, em um dia qualquer, uma surpresa: uma fava de baunilha surgiu entre a vegetação. A descoberta coincidiu com o período da pandemia, quando Daniel precisou passar mais tempo na fazenda.
Foi nesse momento que ele começou a estudar e se aprofundar no cultivo da especiaria. O que antes era apenas uma experiência casual se transformou em um projeto de vida.
Cultivo artesanal e sustentável
Diferente das grandes plantações comerciais, a produção de baunilha na propriedade de Daniel segue um modelo agroflorestal, onde a planta se desenvolve em harmonia com a natureza.
O cultivo é feito em substrato orgânico, com nutrição por meio de compostos naturais e manejo cuidadoso. Cada detalhe é acompanhado de perto, da polinização manual ao processo de cura das favas.
A baunilha, originária da América Central, exige paciência e dedicação. A planta leva de três a quatro anos para começar a produzir e a polinização é feita flor por flor, um trabalho minucioso que demanda conhecimento e técnica. “A gente faz com amor”, diz Daniel. “Não é só produção, é um processo de aprendizado e conexão com a natureza”, complementa.
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Mercado promissor e desafiador
Apesar do processo trabalhoso, a baunilha é um dos produtos mais valiosos do mercado agro. Importada, pode chegar a custar até R$ 4.000 o quilo.
O Brasil tem potencial para se tornar um grande produtor, mas os desafios são muitos: pragas, manejo delicado e as variações do preço internacional, fortemente influenciado por Madagascar, que domina a produção mundial.
Na fazenda de Daniel, o foco não está apenas no lucro, mas no conhecimento compartilhado. Ele faz questão de ensinar a outros produtores as técnicas de cultivo, acreditando que a baunilha pode se tornar uma alternativa sustentável e rentável para pequenos agricultores do Cerrado.

O caminho para expandir a produção de baunilha no Brasil ainda é longo, mas iniciativas como a do Sr. Daniel mostram ser possível criar um modelo de produção sustentável, respeitando o meio ambiente e valorizando o trabalho manual.
Clique aqui e confira o Manual de Práticas básicas para Cultivo da Baunilha no Brasil, publicado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária/ Embrapa.