Crédito rural e financiamentos: como pequenos e grandes produtores podem acessar os recursos?
Saiba como funciona o crédito rural no Brasil, quais linhas estão disponíveis e como pequenos e grandes produtores podem acessá-las para impulsionar seus negócios
O crédito rural é uma das principais ferramentas de apoio ao agronegócio brasileiro. Seja para pequenos agricultores familiares ou para grandes produtores, o acesso ao financiamento é essencial para garantir o custeio da produção, investimentos em tecnologia e infraestrutura, além da comercialização da safra.

O que é crédito rural?
Crédito rural é o conjunto de recursos financeiros disponibilizados aos produtores rurais para que possam investir na produção agropecuária. O crédito pode ser utilizado para diferentes finalidades: custeio, investimento, comercialização e industrialização.
Os recursos podem vir de fontes públicas ou privadas, geralmente com taxas de juros diferenciadas, prazos e condições adaptadas ao ciclo produtivo agrícola ou pecuário.
Segundo o Banco Central do Brasil, os objetivos do crédito rural são:
- Incentivar os investimentos no campo;
- Elevar a produção e a produtividade;
- Promover a geração de renda e emprego no meio rural;
- Estimular o uso sustentável dos recursos naturais.
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Plano Safra: principal política de crédito rural no país
O principal instrumento de política pública voltado ao financiamento rural é o Plano Safra, anunciado anualmente pelo governo federal. A edição 2024/2025 disponibilizou um recorde de R$ 400,59 bilhões para a agricultura empresarial, com aumento de 10% em relação ao ciclo anterior. Já a agricultura familiar, por meio do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), conta com R$ 85,7 bilhões, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
“O Plano Safra representa uma política pública sólida para dar previsibilidade e segurança ao produtor rural, com foco na sustentabilidade e na ampliação da produtividade”, afirmou Carlos Fávaro, ministro da Agricultura, durante o lançamento do plano em junho de 2024.
Linhas de crédito para pequenos produtores
Pequenos produtores rurais, em especial os da agricultura familiar, contam com linhas específicas que oferecem taxas de juros mais baixas e condições facilitadas de acesso. Os principais programas são:
Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar)
Voltado a agricultores familiares com Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) ou Cadastro da Agricultura Familiar (CAF), o programa oferece crédito para:
- Custeio da produção (sementes, fertilizantes, ração);
- Investimentos (máquinas, tratores, irrigação);
- Comercialização;
- Agroindústrias familiares.
As taxas de juros do Pronaf variam entre 2% e 6% ao ano, dependendo da linha e do perfil do produtor.
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Microcrédito rural
Disponibilizado por bancos como o Banco do Nordeste e Banco da Amazônia, o microcrédito rural atende pequenos produtores com baixo faturamento, oferecendo empréstimos de até R$ 21 mil com taxas reduzidas e menos burocracia.
O programa Agroamigo, do Banco do Nordeste, é um exemplo de iniciativa que tem facilitado o acesso ao crédito para agricultores do semiárido nordestino.
Crédito para médios e grandes produtores
Para médios e grandes produtores, o acesso ao crédito rural é feito por meio de instituições financeiras credenciadas pelo Banco Central, que operam com recursos do BNDES, do Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO), do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) e outros mecanismos.
Entre as principais linhas de financiamento estão:
Pronamp (Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural)
Destinado a produtores com renda bruta anual de até R$ 3 milhões, o Pronamp oferece crédito com taxas de 8% ao ano, tanto para custeio quanto para investimento.
Moderfrota
O Moderfrota é uma linha específica para aquisição de máquinas agrícolas, como tratores e colheitadeiras, com juros a partir de 10,5% ao ano, voltado especialmente para produtores de maior porte.
Inovagro
Voltado à inovação no campo, o Inovagro financia tecnologias de automação, agricultura de precisão e conectividade, atendendo tanto pequenos quanto grandes produtores com taxas de 6% a 8,5% ao ano.
Como acessar o crédito rural?
Para ter acesso ao crédito rural, o produtor deve seguir alguns passos importantes:
- Cadastro e regularização: estar com a documentação em dia, incluindo o CAR (Cadastro Ambiental Rural), CAF, licenciamento ambiental (quando necessário) e certidões negativas.
- Plano de investimento ou projeto técnico: a maioria das instituições financeiras exige a apresentação de um plano de aplicação dos recursos. Esse documento pode ser elaborado por um engenheiro agrônomo ou técnico agrícola credenciado.
- Procura por instituições financeiras: o produtor pode procurar bancos públicos (como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNB), cooperativas de crédito (como Sicredi e Sicoob), fintechs ou até fundos privados especializados em agronegócio.
- Avaliação de crédito: a instituição analisará a capacidade de pagamento, garantias e viabilidade do projeto.
- Liberação e fiscalização: após aprovação, o recurso é liberado e a aplicação é fiscalizada conforme contrato.
Desafios no acesso ao crédito
Apesar da ampla oferta, muitos produtores ainda enfrentam obstáculos para conseguir financiamento rural. Entre os principais desafios estão:
- Burocracia e excesso de documentação;
- Falta de assistência técnica para elaboração dos projetos;
- Dificuldade de acesso a informações, especialmente por parte de pequenos produtores;
- Exigência de garantias reais, como imóveis ou produção futura;
- Taxas de juros elevadas para certos perfis e culturas.
Um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) indica que cerca de 40% dos agricultores familiares no Brasil não acessam crédito rural formal, o que compromete a competitividade e sustentabilidade desses negócios.
Fintechs e novas soluções de crédito no agro
Com o avanço da tecnologia, novas soluções estão surgindo para facilitar o acesso ao crédito rural. Fintechs especializadas, como Agrolend, Traive e TerraMagna, oferecem linhas de financiamento com análise de dados via satélite, histórico de safra e garantias digitais.
“Usamos dados agronômicos e climáticos para avaliar o risco e conceder crédito com menos burocracia. Isso democratiza o acesso, especialmente para médios produtores”, afirma Rodrigo Marques, CEO da TerraMagna.
Além disso, o uso de tecnologias como blockchain, smart contracts e plataformas digitais de crédito promete transformar o cenário de financiamentos no agro nos próximos anos.
O papel das cooperativas de crédito
As cooperativas de crédito também desempenham um papel fundamental na concessão de crédito rural, principalmente em regiões onde os grandes bancos têm pouca presença. Instituições como o Sicredi e o Sicoob oferecem atendimento personalizado, taxas competitivas e reinvestem os resultados na própria comunidade rural.
Segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), cerca de 30% dos financiamentos do Pronaf em 2023 foram operados por cooperativas, o que demonstra sua relevância no fomento à agricultura familiar.
Caminhos para o futuro
Para ampliar o acesso ao crédito rural de forma inclusiva e sustentável, especialistas apontam algumas medidas prioritárias:
- Desburocratização dos processos e digitalização dos serviços;
- Ampliação da assistência técnica e da educação financeira no campo;
- Criação de garantias alternativas, como fundos garantidores e seguros agrícolas mais acessíveis;
- Incentivo à sustentabilidade, com linhas específicas para práticas regenerativas e baixo carbono.