Com recuperação fiscal no radar, Tadeuzinho quer Assembleia funcionando normalmente no período eleitoral

Presidente do Legislativo Estadual afirma buscar solução política para a dívida do estado

Victor Fernandes
, em Uberlândia
21/07/2024 ÀS 12H36
- Atualizado Há 4 meses atrás

Em entrevista ao jornalista Danilo Caixeta, no programa Política Cruzada, exibido neste domingo (21), o presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Tadeu Martins Leite (MDB), afirma querer manter o ritmo de trabalhos da Casa no segundo semestre deste ano, mesmo com o período das eleições municipais cada vez mais próximo.

“A Assembleia não pode parar. Temos alguns deputados que são candidatos, ou que vão apoiar candidaturas no interior. Isso é natural, legítimo. Mas as votações e as comissões continuam funcionando do mesmo jeito. Nada muda”, afirma Tadeu Martins Leite.

A preocupação de Tadeuzinho em manter o ritmo na Assembleia tem explicação. Com a definição sobre o pagamento da dívida do estado de Minas com a União cada vez mais próxima – devido ao julgamento do STF para analisar o mérito do caso, marcado para o dia 28 – o presidente da Assembleia quer uma mobilização política para encontrar uma saída.

Tadeu Martins, presidente da Assembleia, foi entrevistado no Política Cruzada
Tadeu Martins, presidente da Assembleia, foi entrevistado no Política Cruzada desde domingo (21) – Foto: TV Paranaíba/reprodução

Regime de Recuperação Fiscal é discutido na Assembleia

As regras do Regime de Recuperação Fiscal são amargas para o mundo político, pelas perdas impostas aos servidores do estado e o esforço fiscal que seria necessário para equilibrar as contas públicas, como prevê o RRF.

O RRF traz dificuldades para os servidores públicos do estado, para as empresas públicas e um problema ainda maior: nós teríamos duras medidas para Minas Gerais, nos próximos dez anos, mas a dívida que hoje é de R$ 170 bilhões, chegaria ao final desse período a R$ 210 bilhões. Ou seja, faríamos um grande esforço, para não resolver nada, ao contrário, para piorar a questão da dívida”, argumenta Tadeu Martins Leite.

O presidente da Assembleia afirma ter mobilizado lideranças em Brasília, como o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para ajudar a construir um novo caminho para a solução da dívida. Esse esforço político alcançou o desenho do chamado Propag (Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados).

Diferente do RRF, ele não traz tantas imposições duras aos servidores e empresas estaduais, mas traz oportunidades de poder amortizar parte das dívidas dos estados, por meio de ativos – como créditos com a União ou terceiros, imóveis ou participação em empresas do estado. Se o estado amortizar acima de 20% do valor devido à União, ele teria um perdão de 2% dos juros”, explica Tadeuzinho. A outra parte dos juros pagos seria revertida a um fundo de socorro aos estados, além de investimentos em educação.

Histórico da Dívida

A raiz do problema envolvendo a dívida de Minas Gerais com a União remonta ao ano de 1998, quando houve a chamada pactuação dos valores com a União. Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, 25 estados aderiram ao programa. O governo federal assumiu a responsabilidade pelo pagamento dos débitos que os estados haviam contraído junto a bancos e instituições financeiras.

Na época, a União tornou-se credora dos estados, que teriam que realizar um conjunto de programas de ajuste fiscal e privatização de empresas, além de sanear instituições financeiras, os antigos bancos estaduais. O pano de fundo era o controle da inflação e a organização das contas públicas pós-Plano Real.

A renegociação dessas dívidas gerou um contrato de 30 anos. No caso de Minas Gerais, a dívida foi calculada em R$ 14 bilhões. O saldo devedor deveria ser pago à União em parcelas mensais, com taxa de juros de 7,5% ao ano mais a inflação.

Consequências desastrosas

Proibidos de emitir novos títulos de dívida pública estaduais, os entes da União tiveram que se adequar a um limite de despesas. Também estava restrito o uso de empréstimos para financiar despesas correntes de custeio – a operação é permitida somente para investimentos. O objetivo dessas medidas era propiciar, ao longo dos anos, o saneamento das contas estaduais.

Mas com as taxas de juros cada vez mais distantes do mercado e a dificuldade dos estados em implementar medidas de ajuste fiscal, os valores da dívida explodiram. No caso de Minas Gerais, de 1998 até aqui, o débito cresceu mais de 1000%, mesmo com pagamentos bilionários realizados ao longo desse período.

Responsabilidade Política

Ao final de 1999, o governador Itamar Franco suspendeu o pagamento da dívida de Minas por 90 dias, para tentar organizar e analisar os débitos. A “moratória de Itamar” fez o saldo devedor saltar para R$ 34,3 bilhões na virada do milênio. Durante o governo tucano de Aécio Neves (2003-2010), novo aumento da dívida com os valores atingindo R$ 64,4 bilhões. Em 2014, ao fim do mandato de Antônio Anastasia (PSDB), a dívida chegava a R$ 70,3 bilhões.

Quando Fernando Pimentel (PT) deixou o cargo, em 2018, já sob os efeitos do pagamento dos altos juros da dívida, com atrasos de salários para servidores e de repasses aos municípios, o débito com a União alcançava R$ 100 bilhões de reais.

A suspensão do pagamento da dívida foi um pedido de Pimentel à justiça, mas o governo Romeu Zema (NOVO) é que foi o beneficiado pelo alívio dos juros – ao custo da dívida aumentar consideravelmente, chegando aos atuais R$ 170 bilhões de reais.

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A evolução da dívida de Minas Gerais com a União nos últimos 26 anos

Para conferir a íntegra da entrevista de Tadeu Martins Leite, presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, ao Política Cruzada, basta clicar no player abaixo.

 

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