“Queria o divórcio, acabei com uma lesão na coluna”, relata médica espancada pelo marido em Uberlândia

A vítima sofreu abusos psicológicos, patrimoniais e físicos durante os 11 anos de casamento, mas tinha medo de denunciar o agressor

, em Uberlândia
25/09/2024 ÀS 15H13
- Atualizado Há 1 semana atrás

Em entrevista exclusiva ao Paranaíba Mais, a cardiologista de 50 anos, brutalmente espancada pelo marido, um advogado de 42 anos, relatou os anos de sofrimento e terror que viveu ao lado do agressor. Mesmo estando em outra cidade, longe do marido foragido, a médica ainda sente medo.

Cardiologista agredida pelo marido diz se sentir humilhada com a situação que vive há anos dentro de casa – Crédito: Arquivo Pessoal

“Eu estou humilhada. Aguentei muita coisa por muitos anos porque temia pela minha vida, pela do meu filho e também pela minha carreira. Agora, estou com muito medo. Foram anos de ameaças de morte, e eu nem consigo contar quantas vezes ele apontou uma arma para mim. Sempre dizia que, se eu falasse algo ou tentasse sair do casamento, ele sumiria com meu filho. Ele repetia que, se eu e meu filho morrêssemos, ele ficaria com tudo. Ameaçava matar minha família e me proibia de ter qualquer contato com eles”, desabafou a médica.

Mesmo refugiada com o filho em outra cidade, o pavor não a abandona. ‘“Eu não apenas temo, tenho pavor. Estou perdida, sem saber o que fazer. Além de estar fisicamente muito machucada, meu filho está sem poder ir para a escola, abalado pela cena que presenciou. Ele viu o pai me espancar, me arrastar, e agora está vivendo com medo e insegurança”.

Pedido de divórcio causou agressão

Sobre o histórico de agressões, a médica revela que sofre violência física e psicológica há anos. “Sofro calada há muito tempo. Tenho até medo de falar porque quando fui ouvida pela polícia eu fui acusada de ser omissa em relação ao meu filho. Mas só eu sei o que vivi. Ele me dava motivos diariamente para temer pelo que poderia fazer conosco. Eu cheguei a pedir que ele procurasse ajuda psicológica, mas acabei apanhando por isso”. A vítima ainda lembra um episódio que marca o início de sua tentativa de se libertar.

“Uma vez disse que queria o divórcio. Como resposta, ele me agrediu tão violentamente que acabei com uma lesão na coluna. Desde então, as ameaças só pioraram”.

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Vítima relata falto de amparo dos órgãos se segurança

Sobre o atendimento após as agressões recentes, a médica denuncia a falta de amparo da Justiça e a lentidão no processo de proteção, que só aumentam seu desespero.

“No dia em que tudo aconteceu, todos me viram sangrando e a única coisa que conseguimos foi ser atendidos na UAI. Depois, fomos para a delegacia fazer o boletim de ocorrência. Eu pedi várias vezes para rastrearem o celular dele, para irem atrás dele, mas nada foi feito. Minha advogada explicou que eu tinha direito a uma medida protetiva naquele momento, mas disseram que não poderiam fazer nada porque ele não estava preso.”

Durante a apuração da reportagem, as medidas protetivas para as vítimas foram expedidas pelo Judiciário para que o homem não se aproxime da família.

Por meio de nota, a Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (DEAM) disse que tomou todas as medidas necessárias no caso da vítima. O atendimento para pedidos de medidas protetivas ocorre durante o horário comercial na DEAM, e em finais de semana ou à noite, é realizado pela Delegacia de Plantão.

O pedido também pode ser feito diretamente pelo advogado da vítima junto ao Judiciário. Os profissionais da DEAM são treinados para oferecer um atendimento acolhedor e humanizado às vítimas de violência doméstica.

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Vítima relata que se sente perdida e preocupada com o filho que presenciou toda a ação do pai – Crédito: Arquivo Pessoal

A cardiologista relata que só conseguiu realizar o exame de corpo de delito por volta das 2 horas da manhã, o que atrasou ainda mais o tratamento de seus ferimentos. “Isso prejudicou muito a nossa segurança. Eu fiquei horas sem atendimento adequado, sem proteção, enquanto ele estava solto, podendo nos encontrar a qualquer momento. Tenho medo pelo meu filho e por mim.”

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A médica encerra a entrevista com um pedido de socorro. “Eu só quero proteger meu filho e tentar reconstruir minha vida. Mas, enquanto ele estiver solto, vou viver com medo de que nos encontre.”

O que diz o advogado de defesa

Em nota, a advogada do homem diz que o caso continua sob investigação judicial. Ela alega que as acusações estão distorcidas e precisam de provas, afirmando que o acusado pela mulher não cometeu atos de violência, mas sim tentou proteger seu filho, supostamente vítima de maus-tratos pela mãe.

A defesa pede cautela na divulgação pública para evitar prejudicar a imagem de e o bem-estar da criança, e se coloca à disposição para fornecer informações quando o processo avançar, garantindo o direito de resposta.

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