Família clama por justiça após tragédia: bebê de um ano morta por babá em Uberlândia

Parente de Anna Alice afirma ter solicitado guarda da criança e critica Conselho Tutelar por falha na identificação da situação crítica

, em Uberlândia
04/09/2024 ÀS 19H58
- Atualizado Há 2 semanas atrás

“Estou decepcionada com a justiça”. Essas foram as palavras de uma familiar próxima de Anna Alice Valentina, morta pela babá em Uberlândia no dia 28 de agosto, ao comentar sobre a soltura dos pais da criança. Eles estavam presos sob suspeita de envolvimento em maus-tratos contra a filha.

A familiar da vítima conversou com exclusividade com o Paranaíba Mais e pediu que sua identidade fosse preservada. A notícia da libertação do casal surpreendeu e abalou a mulher, que relata indignação e sede de justiça.  “Eles têm que pagar por isso, mesmo sendo os pais dela”, comentou sem esconder a frustração e tristeza com o caso.

Histórico de violência e negligências

Acompanhada pelo advogado Otávio Rezende, a mulher, que conhecia detalhes da vida do casal e da criança, relatou o histórico de violência e negligência que permeava o relacionamento dos pais da menina desde o início. “Desde quando soube que a menina estava na barriga da mãe, eu já temia pela segurança dela”, afirmou.

Segundo a testemunha, o casal mantinha uma relação conturbada e cheia de episódios de violência. “Ambos são violentos. Não era só ele ou só ela. Eles se agrediam, manipulavam um ao outro e, muitas vezes, colocavam a criança em situações de risco”, relatou.

Ela mencionou que os dois tinham um comportamento agressivo e abusivo, o que resultava em brigas constantes e, eventualmente, na exposição do bebê a condições extremamente perigosas.

A mulher descreveu que, desde os primeiros meses de vida, a bebê era submetida a condições de negligência. Anna Alice era levada para pedir esmolas em sinaleiros e portas de supermercados em dias frios. “Ela tinha dois meses e já estava na rua com eles, no frio, pedindo comida”, lembrou, emocionada.

A mulher relatou ainda que a mãe da bebê sofreu um aborto na primeira gestação devido a diversas atitudes violentas ocorridas durante a gravidez de Anna Alice, incluindo murros na barriga e agressões por parte do próprio companheiro, pai da menina.

Familiar solicitou ao Conselho Tutelar a guarda da bebê

O advogado Otávio Rezende, que acompanha o caso, explicou que o processo de guarda da bebê já havia sido iniciado em março deste ano, mas que, de forma inesperada, a mãe da criança mudou de posição e interrompeu o acordo. A mulher, que mora em Goiás, solicitou a guarda para o órgão do seu estado, que fez um trabalho conjunto com o Conselho Tutelar de Uberlândia.

“Nós já tínhamos um acordo assinado para a guarda da criança ser passada para a familiar, mas a mãe, de repente, envolveu o Conselho Tutelar e a Polícia, alegando que o familiar estava tentando tomar a criança à força”, disse Otávio. Ele destacou a resistência do Conselho Tutelar de Uberlândia em agir de forma rápida e protetiva, apesar das evidências claras de maus-tratos.

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A situação piorou quando a mulher buscou a intervenção do Conselho Tutelar e das autoridades locais para tentar garantir a segurança da criança. Segundo ela, mesmo após relatar a negligência e os abusos, não houve ações imediatas para resguardar a criança. “Eu já tinha dito ao conselheiro que temia pela vida dela e ainda assim, nada foi feito. O Conselho Tutelar foi à minha casa, e mesmo assim, não agiram como deveriam”, disse, demonstrando sua indignação.

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A relação entre os pais da criança era descrita como tóxica, marcada por vícios e atitudes violentas, o que, segundo a testemunha, tornou o ambiente insustentável para o bebê. “Eles viviam em função dos vícios e não tinham condições psicológicas, morais e financeiras para cuidar dela”, afirmou, ressaltando que ambos deveriam ser mantidos sob custódia para garantir a segurança do primeiro filho do casal. Além disso, foi apontado que a mãe do bebê ameaçou diretamente essa familiar em diversas ocasiões, inclusive em escritórios de advogados. “Ela teve a coragem de me ameaçar dentro do escritório do doutor Otávio, dizendo que eu pagaria caro por tudo isso”, relembrou.

Além das ameaças e da violência física, havia também negligência médica e alimentícia. A mulher contou que a criança passava dias sem alimentação adequada e, muitas vezes, sem cuidados médicos básicos. “Ela dizia que as manchas na pele da bebê eram alergia, mas, na verdade era porque ela estava passando fome”, explicou.

O advogado Otávio Rezende concluiu reiterando a luta que ambos continuam enfrentando para garantir a segurança e a proteção da criança. “Estamos fazendo tudo o que está ao nosso alcance para reverter essa situação e trazer justiça para essa família”, afirmou.

Emocionada, a mulher termina pedindo o seu único desejo “Que a justiça seja feita.”

Resposta do Conselho Tutelar

A equipe de reportagem do Paranaíba Mais solicitou o posicionamento do Conselho Tutelar, que esclareceu tomar conhecimento da situação em março deste ano.

A denúncia relatava que a mãe enfrentava conflitos com a família paterna e recebeu ameaças sobre a guarda da filha. Após contato com a avó materna, soube-se que a família havia retornado para Uberlândia. No entanto, a mãe procurou o Conselho pedindo ajuda, alegando que a família paterna não permitia que levasse a criança.

O Conselho então foi ao local com a Polícia Militar e decidiu deixar a criança temporariamente sob os cuidados da avó paterna até uma averiguação completa. Ainda de acordo com o órgão, após análise e constatação de que não havia impedimentos, a criança foi entregue à mãe e encaminhada para Uberlândia.

Além disso, foi solicitado um estudo de caso pela Vara de Família, confirmando que ambas as famílias estavam aptas a cuidar da criança. O Conselho lamentou a morte da menina e garantiu que todas as providências necessárias, que compete ao órgão, foram tomadas pensando no bem-estar da criança.

Relembre o caso

Segundo a Polícia Civil (PC), os pais do bebê de um ano relataram que deixaram a menina com a babá de 17 anos e que, por uma negligência da cuidadora, o bebê caiu.

No entanto, uma análise feita no IML constatou que as cores dos hematomas indicavam agressões em outras datas.

Durante as investigações, a PC confirmou que, na verdade, se tratava de maus-tratos por parte da cuidadora.

Em depoimento à Polícia Civil, a adolescente contou que estava sem paciência com o choro da criança e que a teria empurrado contra a parede. No entanto, o delegado-chefe explica que essa versão não procede, devido à análise feita nas lesões, que comprovam que elas não aconteceram em um único dia.

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As agressões causaram politraumatismo na criança, que não resistiu aos ferimentos.

O sepultamento da bebê de um ano acontece no último dia 30 de agosto, em Uberlândia.

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