Uma das vítimas do líder espiritual, de 33 anos, preso em Patos de Minas, relatou os abusos sofridos durante os rituais conduzidos pelo acusado. Sem se identificar, a mulher contou com exclusividade à reportagem da TV Paranaíba que, ao entrar no grupo, tudo parecia uma experiência espiritual positiva, mas rapidamente se viu envolvida em práticas que incluíam a ingestão de sangue menstrual e ameaças constantes após decidir deixar o grupo.
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“Quando entrei, tudo era mascarado como algo maravilhoso, um despertar, uma cura espiritual de fato”, afirmou a vítima.
Segundo ela, os rituais inicialmente pareciam promissores, mas logo evoluíram para um cenário de desconforto e repressão:
“Durante os rituais, as mulheres ficavam nuas ou seminuas e chegavam a beber sangue menstrual misturado com vinho. Ele dizia que era um ritual de purificação e cura”, revelou.
Os crimes, investigados pela Polícia Civil desde março desse ano, ocorreram em encontros privados e incluíam um juramento feito com uma agulha única, usada repetidamente nas vítimas.
O Ministério Público Estadual (MPE) denunciou o líder espiritual nove crimes de estupro mediante fraude, além de ameaça.
A vítima contou ainda que a ansiedade se tornou insuportável e ela não conseguia mais levar os dias de maneira normal. “Estava exausta, apreensiva e muito desconfortável”, relatou a mulher, destacando um dos episódios mais perturbadores: “Em um momento, ele alegou que as meninas deveriam tirar o sutiã. Foi aí que fiquei ainda mais inconformada.”
Após decidir se afastar, a mulher passou a receber ameaças. “Fui ameaçada juntamente com as pessoas que saíram comigo. Fomos perseguidos através de redes sociais”, afirmou.
Ela revelou uma mistura de alívio por ver a justiça sendo feita e tristeza pelas marcas deixadas.
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O que diz a Polícia Civil
Segundo a delegada Tatiana Carvalho Paiva, os crimes eram cometidos em cultos privados com um número reduzido de pessoas, todas elas mulheres. “Ele praticava atos libidinosos contra as vítimas. Passava óleo e mel no corpo delas. Com o tempo, essas vítimas eram coagidas espiritualmente a praticar relações sexuais naquele ambiente restrito”, explicou.
Os métodos utilizados pelo suposto pai de santo, como ele próprio se intitulava, incluíam juramentos com uso de uma agulha única, além de coagir as vítimas a consumir sangue menstrual.
A alegação, segundo Tatiana, era de que essas mulheres alcançariam elevação espiritual e seriam purificadas se bebessem o sangue misturado a vinho.
As vítimas foram orientadas pela Polícia Civil a procurarem auxílio médico e realizar exames devido ao risco de contaminação pelo uso compartilhado de agulhas e pela ingestão de sangue menstrual, que também pode ser nocivo à saúde.
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Religião própria
Embora os crimes fossem cometidos em um terreiro de religião de matriz africana, a Polícia Civil apurou que os métodos utilizados pelo líder espiritual, como forçar as vítimas a consumir sangue, não eram típicos da religião à qual ele alegava pertencer.
“A gente percebeu, com estudo e investigação junto a pessoas especializadas no tema, que esses atos praticados não faziam parte das religiões de matriz africana. Na verdade, ele criou uma religião própria onde havia desrespeito e abuso sexual das vítimas”, disse a delegada.
Familiares dele também foram indiciados pelo crime de ameaça, por coagir as vítimas após sua saída do terreiro.