A delicadeza e a simplicidade de Érico Veríssimo

Autor modernista, Érico Veríssimo, carregou seus leitores por diferentes fases de sua escrita

05/08/2024 ÀS 17H39

- Atualizado Há 2 meses atrás

Érico Veríssimo foi minha companhia na adolescência por duas vezes, numa sequência. Primeiro com Clarissa. Tempos depois com Música ao Longe, quando a jovenzinha da primeira obra, com 13 anos, reaparece como uma professora. O ambiente é de decadência de uma família da pequena e fictícia Jacarecanga, na década de 1930. Os tempos já haviam sido mais generosos, outrora. Restam, então, as lembranças do passado que ficou no imaginário, de uma suposta recepção ao monarca Dom Pedro II, não se sabe ao certo se ocorrida.

A linguagem de Veríssimo parece ingênua. Tem um viés regionalista, como homem de interior que cultivou ser, oriundo do modernismo brasileiro. Nunca vendeu a ideia de exaltação de sua terra, mas de hábitos e costumes simples, de questões bem miúdas de dentro de casa, na escola, na rua principal da cidadela, que nos tocam fundo por poder ser parte de um cotidiano da gente.

Porque nem tudo é novela. Nem tudo é trama cinematográfica.

Engraçado como um autor marca nossas vidas apenas por descrever ambientes singelos e querelas triviais, mas críveis. Clarissa pode ser a prima distante, a filha da vizinha, a professorinha de jardim de infância do meu filho. Que sensibilidade tem Veríssimo de tocar no íntimo de nossas lembranças e provocar uma viagem de sentimentos, por vezes gentis, em lado extremo até bravios.

De contos, crônicas, ensaios e memórias, Veríssimo cresceu sua obra e carregou seus leitores. Os mesmos de Clarissa, viajaram com ele em O Tempo e o Vento, O Prisioneiro e Incidente em Antares, trabalhos bem mais densos, mas como a mesma delicadeza, revividos na dramaturgia da televisão e do cinema.

Não há segundas intenções em escrever sobre Érico Veríssimo. Porque ele não precisa ser metaforizado e nem recorrido para invocar cenas necessárias ao nosso presente. Ele é por si mesmo. E saber que ele ainda permanece inteiro em mim, mais de 40 anos depois, me revigora como ser-humano e – pretensões de lado – aprendiz de ensaísta.

×

Leia Mais

Veja também

Rogério Silva

2 dias atrás

Acompanhe nossa programação ao vivo!