Hoje (28), é o Dia Mundial Contra as Hepatites Virais. A data foi instituída pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no ano de 2010.
O objetivo é reforçar as ações de vigilância, prevenção e controle da doença.
O que é a hepatite?
A hepatite é uma doença viral que causa inflamação no fígado, resultando em alterações leves, moderadas ou graves.
Na maioria das vezes, essas infecções são silenciosas e não apresentam sintomas.
Segundo o Ministério da Saúde, as hepatites virais mais comuns são causadas pelos vírus A, B e C. Existem ainda, com menor frequência, o vírus da hepatite D, que é mais comum na região Norte do país, e o vírus da hepatite E, que é menos frequente no Brasil, sendo encontrado com maior facilidade na África e na Ásia.
O avanço da infecção compromete o fígado, podendo causar fibrose avançada ou cirrose, que podem levar ao desenvolvimento de câncer e necessidade de transplante do órgão.
Cerca de 1,4 milhões de mortes ocorrem anualmente no mundo por infecção aguda, câncer hepático ou cirrose associada às hepatites. Ainda segundo o Ministério da Saúde, a taxa de mortalidade da hepatite C, por exemplo, pode ser comparada ao HIV e à tuberculose.
Existem cinco tipos de hepatite. Embora todas causem doenças do fígado, elas se diferenciam nos modos de transmissão, gravidade da doença, distribuição geográfica e prevenção. Conheça cada uma delas:
Hepatite A
A hepatite A é uma infecção pelo vírus A (HAV), também conhecida como “hepatite infecciosa”. Na maioria dos casos, é uma doença de caráter benigno.
Ela é transmitida via fecal-oral, ou seja, pelo contato de fezes com a boca.
A doença do tipo A tem relação com alimentos ou água inseguros, baixos níveis de saneamento básico e de higiene pessoal.
O contato próximo, como entre crianças em creches, e o contato sexual, principalmente na prática do sexo anal, são outras formas de transmissão.
Sintomas e diagnóstico
Quando presentes, os sintomas podem se manifestar inicialmente como fadiga, mal-estar, febre e dores musculares.
Podem ser seguidos de sintomas gastrointestinais como enjoo, vômitos, dor abdominal, constipação ou diarreia.
Antes do início da fase em que a pessoa pode ficar com a pele e os olhos amarelados, pode ocorrer a presença de urina escura.
Os sintomas costumam aparecer de 15 a 50 dias após a infecção e duram menos de dois meses.
O diagnóstico da infecção atual ou recente é realizado por exame de sangue. O exame pesquisa a presença de anticorpos anti-HAV IgM, que podem permanecer detectáveis por cerca de seis meses.
Tratamento e prevenção
Não existe tratamento específico para esse tipo da doença. A recomendação é evitar a automedicação e buscar atendimento médico.
Lavar as mãos, lavar com água tratada, clorada ou fervida os alimentos que são consumidos crus, cozinhar bem os alimentos antes de consumi-los, usar instalações sanitárias estão entre as orientações para prevenir a infecção.
A vacina contra a hepatite A é altamente eficaz e segura, sendo a principal medida de prevenção.
Hepatite B
A hepatite B é a segunda maior causa de morte entre as hepatites virais. A doença foi responsável por 21,7% dos óbitos relacionados a essas doenças entre 2000 e 2022, segundo o Boletim Epidemiológico de 2024.
Denominada de transmissão vertical, esse tipo pode ser transmitido da mãe para o filho durante a gestação ou durante o parto.
Caso não seja evitada, o bebê pode apresentar maior chance de desenvolver a hepatite B crônica.
A investigação da doença deve ser feita em todas as gestantes a partir do primeiro trimestre ou no início do pré-natal.
Para gestantes que apresentem resultado não reagente no teste rápido e sem história de vacinação prévia, recomenda-se a vacinação em 3 doses.
Já aquelas que apresentarem o resultado reagente para hepatite B deverão complementar a avaliação com solicitação de exame específico e carga viral da doença e, caso confirmado o resultado, poderá ter indicação de profilaxia com tenofovir (TDF) a partir do 3º trimestre da gestação.
Para as crianças expostas à doença durante a gestação está recomendada a vacina e imunoglobulina (IGHAHB) para hepatite B, preferencialmente nas primeiras 24 horas do pós-parto.
Sintomas e diagnóstico
A doença não apresenta sintomas. Muitas vezes, é diagnosticada décadas após a infecção, com sinais relacionados a outras doenças do fígado.
O diagnóstico é feito em um teste de triagem para hepatite realizado através da pesquisa do antígeno do HBV (HBsAg).
A doença pode se desenvolver de duas formas: a aguda é quando a infecção tem curta duração. Já a crônica é quando a doença dura mais de seis meses.
O risco de se tornar crônica depende da idade na qual a infecção ocorre.
Tratamento e prevenção
A hepatite B não tem cura. Mas o tratamento disponibilizado no SUS tem o objetivo de reduzir o risco de progressão da doença e suas complicações, especificamente cirrose, câncer hepático e morte.
A principal forma de prevenção da infecção é a vacina, que está disponível no SUS para todas as pessoas não vacinadas, independentemente da idade.
Usar camisinha em todas as relações sexuais e não compartilhar objetos de uso pessoal são outras formas de prevenção que devem ser observadas.
Hepatite C
A hepatite C é um processo infeccioso e inflamatório que pode se manifestar na forma aguda ou crônica, sendo esta segunda a forma mais comum.
Possui caráter silencioso e se caracteriza por um processo persistente no fígado.
A transmissão pode acontecer por meio do contato com sangue contaminado, pelo compartilhamento de agulhas, seringas e outros objetos para uso de drogas, reutilização ou falha de esterilização de equipamentos médicos ou odontológicos, procedimentos invasivos, entre outros.
Relações sexuais sem preservativos e a transmissão da mãe para o filho são menos comuns, mas podem acontecer.
A hepatite C não é transmitida pelo leite materno, comida, água ou contato casual, como abraçar ou beijar.
Sintomas e diagnóstico
Cerca de 80% das pessoas não apresentam sintomas. Para os 20% sintomáticos, o período entre a infecção e o início dos sintomas varia de 2 a 12 semanas. Febre, fadiga, náusea, vômito, diarreia, dor abdominal, urina escura e icterícia estão entre os sintomas sentidos.
Geralmente, a doença do tipo C é descoberta em sua fase crônica, após teste rápido de rotina ou por doação de sangue.
Tratamento e prevenção
O tratamento é feito com antivirais de ação direta (DAA), que apresentam taxas de cura de mais de 95% e são realizados, geralmente, por 12 ou 24 semanas.
Para evitar a infecção, não compartilhe com outras pessoas qualquer objeto que possa ter entrado em contato com sangue e use preservativo nas relações sexuais.
Gestantes precisam fazer no pré-natal os exames para detectar as hepatites B e C.
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Hepatite D
A hepatite D, também chamada de Delta, é causada pelo vírus HDV. Esse vírus depende da presença da infecção causadora da hepatite B para infectar um indivíduo.
Existem duas formas de infecção: coinfecção simultânea com o HBV (hepatite B) e superinfecção do HDV em um indivíduo com infecção crônica pelo HBV.
A coinfecção HBV-HDV é considerada a forma mais grave da doença, estando associada a uma maior ocorrência de cirrose, além da chance aumentada de evolução para descompensação, carcinoma hepatocelular e morte.
Entre as formas de transmissão estão a relação sexual sem preservativo com uma pessoa infectada, da mãe infectada para o filho durante a gestação e parto, compartilhamento de materiais de higiene pessoal e contato próximo de pessoa a pessoa por cortes, feridas e soluções de continuidade.
Sintomas e diagnóstico
A doença do tipo D, assim como as outras hepatites, pode não apresentar sintomas ou sinais. Quando presentes, os sintomas mais frequentes são: cansaço, tontura, enjoo e/ou vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras.
O diagnóstico sorológico da infecção é baseado na detecção de anticorpos anti-HDV.
Tratamento e prevenção
Os medicamentos usados no tratamento da hepatite D não promovem a cura da doença, sendo o objetivo principal do tratamento o controle do dano hepático.
Todos os pacientes com a doença devem ser encaminhados a um serviço especializado.
A imunização para hepatite B é a principal forma de prevenção da doença, sendo universal no Brasil desde 2016.
Outras medidas de prevenção são: o uso de preservativo em todas as relações sexuais e não compartilhar objetos de uso pessoal.
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Hepatite E
A hepatite E é uma infecção causada pelo vírus E (HEV), que causa hepatite aguda de curta duração e autolimitada, sendo uma doença de caráter benigno na maioria dos casos.
Em mulheres grávidas, a infecção pode ser grave e há também a possibilidade de desenvolver hepatite fulminante, que pode ser fatal.
A transmissão ocorre, principalmente, pela via fecal-oral, pelo consumo de água contaminada e em locais com infraestrutura sanitária frágil.
Ingestão de carne mal cozida ou produtos derivados de animais infectados, transfusão de produtos sanguíneos infectados e transmissão vertical de uma mulher grávida para seu bebê são outras formas de transmissão.
A hepatite aguda de curta duração e autolimitada ocorre em jovens adultos. A infecção pode acontecer em crianças também, porém elas geralmente não apresentam sintomas ou apenas uma doença leve.
Sintomas e diagnóstico
Entre os sintomas estão fadiga, mal-estar, febre e dores musculares, seguidos de enjoo, vômitos, dor abdominal, constipação ou diarreia, presença de urina escura e pele e olhos amarelados.
A hepatite fulminante pode ocorrer com mais frequência quando a doença ocorre durante a gravidez. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2023, até 20-25% das mulheres grávidas podem morrer se tiverem a infecção do tipo E no terceiro trimestre.
O diagnóstico é feito pelo teste para a pesquisa de anticorpos IgM anti-HEV, que pode ser usado para o diagnóstico da infecção recente pelo HEV.
Os anticorpos são encontrados desde o início da infecção, com pico entre 30 e 40 dias após a fase aguda da doença, e podem persistir por até 14 anos.
Tratamento e prevenção
A doença não tem tratamento específico e é importante evitar a automedicação.
A melhor forma de evitar a doença é melhorando as condições de saneamento básico e de higiene.