Os feminicídios em Minas Gerais registrados no primeiro semestre deste ano colocaram o estado como o terceiro do País onde mais se mata mulheres. Os dados constam no Monitor de Feminicídios no Brasil (MFB), que divulgou o segundo relatório do ano nesta semana.
Nos primeiros seis meses, foram registrados 164 feminicídios em Minas Gerais, sendo 85 consumados e 79 tentados. Uberlândia só perde para a capital Belo Horizonte em números absolutos, sendo o segundo município com maior número de ocorrências. Veja os municípios mineiros com as maiores quantidades de registro de feminicídio:
- Belo Horizonte (12)
- Uberlândia (10)
- Governador Valadares (7)
- Juiz de Fora (5)
- Betim (5)
- Guaxupé (4)
- Ipatinga (4)
Considerando todo o território estadual, 98 (11,4%) cidades mineiras registraram pelo menos um assassinato com vítima feminina.
O MFB é desenvolvido pelo Laboratório de Estudos de Feminicídios no Brasil (Lesfem), formado em parceria da Universidades Estadual de Londrina com as federais de Uberlândia (UFU), Bahia e de Catalão.
O trabalho consiste no monitoramento de feminicídios tentados e consumados noticiados pela imprensa a partir de notícias veiculadas na internet.
Feminicídios em Minas Gerais refletem cenário trágico
Os feminicídios em Minas Gerais lideram as estatísticas ao lado de São Paulo e do estado do Paraná que registram, respectivamente, 283 e 168 crimes.
O relatório aponta ainda que houve, pelo menos, 905 casos com indícios de feminicídios consumados e 1.102 tentados no Brasil. A média diária foi de 4,98 feminicídios consumados e 6,05 feminicídios tentados.
“Os números alarmantes reiteram que, notadamente, o contexto doméstico no Brasil é um lugar de risco para as mulheres. Se as mulheres continuam sendo aniquiladas é em decorrência da desproteção do Estado que negligencia na construção de estratégias de prevenção, enfrentamento e cuidados àquelas em situação de violência”, justificou a Lesfem.
Características dos crimes
O MFB ainda mapeou as características dos feminicídios em Minas Gerais e nos outros estados, dividindo os casos em subcategorias. Entenda as principais delas:
Feminicídio íntimo
Foi identificado em 67,4% dos crimes consumados e 77% dos tentados. É considerado feminicídio íntimo os casos de violência contra a mulher cometidos por um ou uma agressora (ou mais) que fazem ou fizeram parte de seu círculo de intimidade da vítima. Por exemplo: companheiro, ex-companheiro, amante, etc.
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Geralmente, ele ocorre em razão de a mulher se negar a ter relação íntima, de cunho sentimental ou sexual com o agressor.
Feminicídio não íntimo
Corresponde à violência contra a mulher cometida por um homem desconhecido, ou seja, com o qual a vítima não tinha nenhum tipo de relação ou vínculo.
Esse tipo de feminicídio foi identificado em 10,7% dos casos consumados e 5,2% dos casos tentados.
Feminicídio familiar
Segundo o Lesfem, é aquele identificado pela relação de parentesco entre vítima e agressor, seja por consanguinidade, adoção ou afinidade.
Dos casos de feminicídio familiar registrados no primeiro semestre de 2024, 7,2% foram consumados e 6,8% foram tentados.
Feminicídios por conexão
Outra categoria que aparece em menor escala é a de feminicídios por conexão, que implica situação de violência extrema contra uma mulher que se encontra “na linha de fogo”. É o exemplo de uma parente ou amiga que está no mesmo local onde um homem mata ou tenta matar outra vítima, que seria o principal alvo dele.
Neste caso, foram detectados 2,4% de feminicídios consumados e 6,6% de feminicídios tentados no Brasil neste ano.
Feminicídios na presença dos filhos
Um dado que também chama atenção no relatório é que a maioria (58,7%) dos feminicídios aconteceram em frente aos filhos da vítima, colocando essas testemunhas como vítimas indiretas da violência contra a mulher, em razão do sofrimento psicológico e danos emocionais.
Foi o que ocorreu em dois feminicídios em Uberlândia no mês de março.
No primeiro caso, o homem matou a ex-companheira, de 38 anos, e ainda agrediu os dois filhos da vítima, no bairro Santa Rosa. O criminoso foi localizado e preso após o crime.
No segundo caso, a vítima de 32 anos foi esfaqueada pelo ex enquanto ela segurava o filho de dois anos, no bairro Élisson Prieto.
A família disse que o casal já tinha rompido o relacionamento, mas no dia do crime estavam consumindo bebida alcoólica juntos em um bar, quando a briga começou. A vítima morreu algumas semanas após ser internada em estado grave.